Voz e vez da experiência

3 de abril de 2017
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Se você está beirando os 50 ou 60 anos e teme pelo futuro produtivo, não se preocupe. O mercado de trabalho está se transformando à medida que a expectativa de vida da população vem aumentando. Muito do conhecimento que adquirimos existe em livros, em manuais, na internet. Mas há um outro tipo de conhecimento que cada um de nós transporta, quase como uma enciclopédia viva, sobre aquilo que aprendeu e, sobretudo, o que sentiu e foi adquirindo com a sua experiência de vida. Este, por vezes, é mais difícil de descobrir.

Como estamos vivendo cada vez mais, chegar a esta melhor idade pode significar não uma aposentadoria, mas continuar a produzir. Afinal, parar de uma hora para outra, para pessoas ativas e que mantêm a mente arejada, pode significar uma frustração.

Foi por isso que o Sebrae e o Banco do Brasil decidiram lançar o programa Senhor Orientador, em que profissionais experientes no mercado de concessão de crédito estão ajudando donos de micro e de pequenas empresas a obterem financiamento bancário para manter suas portas abertas e enfrentar a crise econômica.

Em outras palavras, um bancário aposentado vai resgatar práticas que a automação dos tempos modernos fez desaparecer. Não faz muito tempo, você deve se lembrar, um gerente de banco conhecia seus clientes. Nas cidades do interior, ainda nos dias de hoje, o pároco, o delegado de polícia, o prefeito e quem comanda as agências bancárias são as pessoas de maior prestígio. E uma das explicações para isso são a credibilidade e a confiança que tais personagens inspiram na sociedade local.

Em busca destes valores, e com o objetivo de resgatar a experiência que antigos funcionários acumularam após anos de labuta, decidimos criar o Senhor Orientador. Selecionados pelo Sebrae entre aposentados de instituições bancárias em todo o país, estes profissionais vão avaliar a capacidade de endividamento dos pequenos negócios e orientar os empresários na obtenção de capital de giro. O objetivo é aproveitar a experiência de profissionais capacitados, melhorar a qualidade da oferta do crédito e resgatar esses profissionais para o mercado de trabalho.

O crédito pode ser o fim ou a salvação de uma empresa. É preciso saber usar conscientemente os recursos e melhorar a gestão financeira da empresa para reduzir as chances de inadimplência. Em um momento de crise econômica, obter crédito é uma operação complicada que envolve riscos, que precisam ser calculados. Ter experiência do lado de lá vai fazer diferença nesse processo.

O Senhor Orientador está dando início à fase de operação do Programa Empreender Mais Simples: menos burocracia, mais crédito, convênio assinado em janeiro entre o Sebrae e o BB com o objetivo de simplificar a gestão de micro e pequenas empresas e orientar financiamento a empresários.

Ao todo, quase 1,5 mil interessados se inscreveram para trabalhar como consultor de crédito do Sebrae. Participam do processo aposentados do sistema bancário, com mais de 60 anos e, no mínimo, dez anos de experiência em análise de crédito e atendimento à pessoa jurídica. Os candidatos passaram por uma seleção e, depois de habilitados, fizeram uma capacitação on-line. A expectativa é que 36 mil micro e pequenas empresas sejam atendidas até o fim do ano.

Um dos objetivos é melhorar o acesso ao sistema financeiro. Segundo pesquisa divulgada no ano passado pelo Sebrae, 83% das micro e pequenas empresas não recorrem aos bancos quando precisam de crédito, devido aos juros altos e à dificuldade para oferecer garantias. Serão liberados R$ 8,2 bilhões, dos quais cerca de R$ 1,2 bilhão por meio da linha Proger Urbano Capital de Giro, com recursos do Fundo do Amparo ao Trabalhador (FAT), e R$ 7 bilhões da linha BNDES Capital de Giro Progeren.

O acesso ao crédito está vinculado à disponibilização de garantias reais e recebíveis. Na prática, o empreendedor poderá financiar com contratação simplificada, prazo de pagamento de até 48 meses, isenção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e taxas de juros a partir de 1,56% ao mês, com carência de até 12 meses para pagamento da primeira parcela do valor principal. Em contrapartida, a empresa deverá manter a quantidade de empregos até um ano depois da operação e, se tiver acima de dez empregados registrados, precisará contratar um jovem aprendiz até seis meses após a operação.

Como dizia meu velho avô, árabe com grande sabedoria, “mais velho um dia, mais experiente um século”.

Artigo do jornal O Globo

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