Os demagogos estão com a corda toda. Nunca se fala tanto em defender o povo como em época de eleição. Nunca se mente tanto como no instante em que a politicalha domina a TV e os jornais para cabalar o voto do eleitor permanentemente enganado. Do contribuinte espoliado pelo furor fiscal de Governos dominados, na sua maioria, dos espertalhões e aproveitadores. Do cidadão comum e principalmente da mulher, da mãe de família, que veem, a cada dia e a cada mês, diminuir a comida no prato, minguar a sacola da feira, aumentar o aluguel e o material escolar, num clima de desesperança que atinge as raias da revolta. Política tem que ser uma coisa séria. Os políticos não precisam ser santos, mas terão que ser dignos. Dizem-se, em geral, progressistas e democratas. Dizem-se socialistas e trabalhistas. Dizem-se “amigos do povo” e defensores da moralidade. Mas a realidade é outra, bem mais real e mais cruel. Quem não se lembra da propaganda das “Diretas Já”? Quem não se lembra do desgraçado “Plano Cruzado”? Quem não está vendo agora a mentirada desse “pacto social”, reunindo pelegos de alto bordo com burocratas do Governo, afastados da realidade, manipulando estatísticas falsas e prometendo o que não podem nem querem fazer, em benefício dos consumidores?
Quando a ditadura, cansada de saquear o Brasil e sacrificar os direitos básicos da coletividade, convocou meia dúzia de politiqueiros da oposição e os mancomunaram para dividir o poder, com o apoio da Nação, uma vez conchavados, esqueceram as multidões que foram convocadas às praças públicas e, através de eleições indiretas, escolheram esse governinho que aí está. Prometeram mundos e fundos na Constituinte e se venderam aos interesses das corporações ávidas para consolidar as mamatas implantadas há mais de 50 anos.
As corriolas que dominam a vida pública brasileira, comprometidas com o usufruto da máquina do Estado, aproveitadoras dos altos cargos da burocracia e dos generosos empréstimos e incentivos para manter empresas falidas, querem mamar eternamente com a máscara de defensoras do povo e, principalmente, dos humildes.
Mas, quem não está constatando a amplitude da miséria generalizada representada pelas filas intermináveis do INPS, esse antro de roubalheira, pela falta de moradias provocada pelos desfalques no extinto BNH, o pé-de-cabra de meia dúzia de gatunos que lá se implantaram para desviar as verbas do FGTS? É o dinheiro suado do assalariado que se manipula descaradamente para enriquecer quadrilhas de burocratas desonestos associados e aventureiros até hoje impunes.
E o caso da Delphim? E o caso da Laureano? E o caso da Coroa-Brastel e todo um rosário de escândalos até hoje não apurados e julgados.
E ainda falam dos interesses do povo. E ainda se erguem os demagogos para se dizer de esquerda, tentando criar uma opção ideológica falsa e até incompreensível para as mais amplas camadas da população.
O PT ganhou em algumas Capitais do Sul do Brasil, não porque é esquerda ou direita, mas porque é coerente, é independente e no momento apresentou o projeto eleitoral mais identificado com a indignação do eleitorado. Contudo, isso não basta para exercer o Governo. Lá terão que ser competentes, senão, vão rodar também.
O que vai prevalecer é a mensagem coerente, prática e que atendendo ao desejo de mudança e modernidade que empolga a Nação.
O que interessa é o resultado final. Temos que defender um programa de metas que imponha um período de sacrifícios, mas, principalmente, que venha para tirar as tetas do Tesouro da boca dos gatunos oficiais que infestam o poder. Que injete capitais do estrangeiro para construir novas fábricas, novos empreendimentos para dar mais empregos e maiores salários. Que inverta as prioridades e faça o Governo fechar empresas falidas que sobrevivem com dinheiro dos contribuintes e canalize, recursos para o ensino, a pesquisa, a habitação, a segurança e saúde e outras tarefas básicas da administração pública.
É preciso que o povo, não mais enganado e explorado pelos demagogos desonestos, mas o povo esclarecido e decidido, identifique quais serão os homens jovens, honrados, inteligentes e competentes, entre os postulantes à Presidência, no ano que vem, capacitados para a missão renovadora.
É preciso que surja alguém bastante forte, saudável e independente para sacudir a árvore do Estado, fazer despencar dos seus galhos generosos a macacada corrupta e esperta que lá se alimenta eternamente, sem esforço e sem trabalho.
Está chegando a hora da verdade. Veremos quais são os amigos do povo, O último 15 de novembro foi só um ensaio, o PT que se cuide. Ele agora também é parcialmente Governo. Não adiantam os rótulos e as frases de efeito. Vamos ver quem vai trabalhar certinho, na trilha da paz e da justiça.
Publicado no jornal O Dia, do Rio de Janeiro-RJ, em 05/12/88
