Abrir um negócio pode ser opção para o bom planejador

14 de dezembro de 2016
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valor_economico_14122016Em momentos de desaquecimento econômico como o atual, muitos profissionais perdem seus empregos e se veem com uma boa indenização em mãos, com a possibilidade de investir em um negócio próprio. Como as chances de conseguir outro emprego rapidamente são baixas, empreender é de fato uma boa alternativa, porém o empresário iniciante deve tomar alguns cuidados, como fazer um planejamento conservador e escolher seu ramo de atuação com base em conhecimento de mercado, e não apenas em paixão.

De acordo com especialistas em empreendedorismo, um bom planejamento é ainda mais crucial atualmente devido à escassez de crédito. “Sem emprego e sem garantias, o empreendedor vai pagar juros exorbitantes por qualquer financiamento”, afirma o sócio da consultoria Empreende, Eduardo Vilas Boas. Ele recomenda que os empresários piorem em 30% os cenários de demanda nos seus planos de negócios. “O empresário deve avaliar seus planos com visão pessimista e ter uma reserva para se garantir”, afirma.

Outro problema causado pela restrição de crédito, segundo o coordenador de pesquisa e mobilização da Endeavor, João Melhado, é que as empresas demoram mais para fechar negócios. “Todos têm menos acesso a crédito, então as atenções devem ser redobradas em relação ao caixa”, diz.

Para amenizar a restrição de crédito, o Sebrae vai anunciar na primeira quinzena de janeiro um programa de crédito orientado em parceria com o Banco do Brasil. Com capital inicial de R$ 1,25 bilhão, o objetivo do programa é dar crédito para microempresas e empresas de pequeno porte orientadas pelo Sebrae.

Segundo o presidente do Sebrae, Guilherme Afif, o Sistema Financeiro Nacional “deixou de cumprir a sua função” porque só tem crédito para grande empresa.

Um certo pessimismo é recomendável também na hora de investir em uma franquia, pois é possível que as previsões de mercado feitas pelos franqueadoras levem em conta uma demanda que já não existe mais, alerta o consultor da Empreende. “É importante o empresário fazer um planejamento independente da franquia, principalmente no que diz respeito à demanda”, afirma.

Segundo ele, a procura por novas franquias está aquecida neste momento porque existe muita gente sem emprego e com dinheiro em mãos. Por isso, Vilas Boas recomenda cautela e diz que é interessante preferir franquias de renome neste momento, evitando as novatas.

Além do conservadorismo nas previsões financeiras, outra chave para o sucesso está na escolha do ramo de atuação. O ideal é que o profissional escolha uma área na qual tenha algum conhecimento de mercado, e não apenas um interesse pessoal. “A recomendação é sempre começar por onde a pessoa tenha experiência de mercado”, afirma Melhado. Ou seja, não basta gostar de comida, é preciso entender sobre o ramo da alimentação, por exemplo.

Seguindo esta linha, o Sebrae criou um programa chamado Super MEI, em São Paulo, para ajudar profissionais desempregados a se transformarem em prestadores de serviços nas suas áreas de atuação. Segundo o presidente do Sebrae, o programa começou no segundo semestre deste ano na região do ABC, em São Paulo, onde existe um grande número de pessoas que perderam seus empregos na indústria automotiva. “É o epicentro do desemprego qualificado”.

“Estamos ajudando este profissional a se qualificar para montar um negócio na área de serviços”, afirma Afif, citando como exemplo metalúrgicos, mecânicos, eletricistas e encanadores. “São pessoas que saem das empresas nos planos de demissão voluntária, recebem dinheiro na demissão, mas não têm perspectivas”. O programa, que começou no ABC e se expandiu para o Estado de São Paulo, deve ser estendido para outras regiões metropolitanas, que concentram o maior número de desempregados, de acordo com o presidente do Sebrae.

As cidades do interior apresentam uma situação melhor em relação ao desemprego, e também são alternativas melhores para empreender. Segundo o Índice de Cidades Empreendedoras 2016 da Endeavor, das dez melhores cidades para empreender no Brasil, seis são cidades de interior – Campinas, Joinville, São José dos Campos, Sorocaba, Maringá e Ribeirão Preto. Elas aparecem no ranking das melhores ao lado das capitais São Paulo, Florianópolis, Vitória e Porto Alegre.

Custos mais baixos, principalmente em relação aos imóveis, aliados à melhor qualidade de vida têm levado os empreendedores para o interior, segundo Melhado. Mesmo assim, os especialistas apontam que a crise é uma boa oportunidade para conseguir contratos mais vantajosos de aluguel comercial, independentemente da região. Segundo o sócio da Empreende, esta também é uma boa oportunidade para conseguir boas negociações com os fornecedores. “Negociar contratos na baixa é o lado positivo de empreender na crise”, afirma Vilas Boas.

Outra recomendação dos especialistas é procurar mercados que sejam mais resilientes no momento de desaquecimento econômico. É o caso do ramo de alimentação natural e também do e-commerce, que têm uma tendência positiva independente da crise, de acordo com o executivo da Empreende. Os dados da Endeavor apontam avanço recente das empresas exportadoras, de economia criativa e de telecomunicações.

Sairá ganhando quem oferecer soluções inovadoras e com bom custo benefício, pois é na crise que as pessoas estão mais abertas para trocar de prestador de serviços, em busca de melhores preços e eficiência. “As pessoas estão mais dispostas a mudar, então a crise é também uma oportunidade de conquistar clientes”, diz Melhado.

Fonte: Valor Econômico

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