Nossa voz deve ser ouvida

20 de julho de 1990
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O equilíbrio social e a estabilidade institucional correm sérios riscos neste momento particularmente grave da vida nacional. O combate à inflação sem preocupação com a ameaça da recessão, do desemprego em massa e do desarranjo da produção, os choques continuados com o Judiciário, o clima conflituoso com o Legislativo são alguns dos sinais que indicam a voluntariedade de uma administração inexperiente e extremamente autoritária.

O Brasil não pode ser empurrado para um caminho sem volta. O terceiro milênio aguarda um país que saiba abrir as portas da modernidade, sem atropelos, sem exageros, sem sofismas, sem guerra de nervos, sem medos. Infelizmente, o país está tomado pela angústia. Essa situação realça a importância das eleições majoritárias e proporcionais de 3 de outubro. E dentro desse cenário que coloco minha candidatura ao Senado, pelo Estado de São Paulo.

Pretendo ser o porta-voz de São Paulo contra o clima de instabilidade e desconfiança. Assumo inteiramente a missão de interpretar um tempo de paz, de estabilidade, de segurança para a massa trabalhadora. Precisamos de tranquilidade para trabalhar e de um fio condutor que nos garanta a aplicação por inteiro dos princípios e valores que inspiram e sedimentam nosso escopo político e institucional. Verificamos, por exemplo, que a apregoada política liberalizante claudica por falta de experiência da equipe. Abre-se o mercado à concorrência internacional, sem se examinarem em profundidade os riscos quê pode acarretar para determinados setores, ameaçados de sucateamento, e sem antes se estimular o investimento na importação de tecnologia de produção para permitir competição equilibrada, a curto e médio prazos.

Não podemos, sob nenhuma hipótese, concordar com a violência cometida contra uma das mais sagradas instituições nacionais, a caderneta de poupança. Não podemos aceitar que brasileiros honestos sejam colocados na esteira dos especuladores. Contra esse estado de coisas, nasceu em São Paulo um projeto político, forjado na bandeira do desenvolvimento com liberdade, que inspirou nossa campanha presidencial. Esse projeto se apoia em três revoluções: a tecnológica, com educação e cultura; a revolução verde, com desenvolvimento da agricultura e preservação do meio ambiente; e a urbana, com habitação e transporte, além de uma reforma administrativa competente e da manutenção de investimentos em setores relevantes como saúde e saneamento.

O Brasil caminha para a modernidade e São Paulo, seu mais fiel intérprete, não pode calar diante de erros que comprometem nosso futuro. O presidente Collor foi eleito à margem das estruturas partidárias, certamente desgastadas e frágeis, representando anseios de mudança e modernização. As ideias foram vencedoras sem a certeza de que o eleito acreditava nelas e saberia o real caminho para a solução de nossos problemas.

Represento um Estado brasileiro que, por suas características, sintetiza o ideal a ser alcançado por todos os Estados-irmãos. Nascemos na agricultura, evoluímos para a industrialização e estamos próximos do modelo do Primeiro Mundo, com os olhos voltados para a evolução tecnológica. Assim, em nome do Brasil moderno e do Brasil do futuro, São Paulo protesta contra os descaminhos da política governamental. Nossa voz deve ser ouvida. Foi aqui em São Paulo que o presidente recebeu uma grande consagração eleitoral. Agora, o povo paulista se volta contra o desemprego e a recessão.

Para dar vazão a esses anseios, surgiu em São Paulo a aliança liberal democrata, unindo o PMDB e o PL. Trata-se de um compromisso para se criar uma estrutura política forte, que preserve o estado de direito e cumpra uma missão modernizadora na reforma constitucional de 1993. O atual governo de São Paulo, em meio a uma administração federal de cinco anos desastrosos, manteve viva a chama do desenvolvimento, ao dotar o Estado da infraestrutura necessária para a manutenção do nível da atividade econômica e gerar tributos para melhorar sua eficiência na Educação, Saúde, Justiça e Segurança. Os paulistas, formados por imigrantes de outros países e daqui mesmo, criaram, ao longo dos anos, um modelo básico a ser desenvolvido para o Brasil.

Nossa aliança representa a união de uma nova geração de políticos, que repudia as picuinhas partidárias de passado recente, rejeita o fisiologismo, de um lado, e o rancor ideológico, de outro. Esse é o momento da integração da população em torno de um projeto que traga desenvolvimento com justiça social. Não existe nação rica com povo pobre. Luiz Antônio Fleury Filho, candidato ao governo do Estado de São Paulo pelo PMDB, é um jovem de talento político recém-revelado por sua atuação numa das mais espinhosas áreas da administração, a segurança pública. Aloysio Nunes Ferreira, candidato a vice-governador, brilhante parlamentar, perseguido no passado por suas ideias políticas, une-se ao mesmo projeto que busca a real libertação de um povo. Junto concorro ao Senado, porque São Paulo, como diz Fleury, não pode parar. Eu acrescento: São Paulo não pode calar.

 

Publicado na Folha de S.Paulo – 20/07/90

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