O choque do moderno e do antigo

11 de julho de 1988
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“Seria absurdo figurar-se na existência do sindicato nacional socialista ao lado de outros que competissem com ele. Porque o primeiro deve, profundamente convencido da universalidade de sua missão e dos deveres inerentes à mesma, não tolerar a existência de outras instituições, com propósitos parecidos ( . . .)“(Adolph Hitler – Mein Kempf)

Quando vemos que a unicidade sindical foi qualificada como progressismo da nova Constituição e comparamos com documentação do pensamento nazifascista da década de 30, temos que a nova Carta, que deveria aparelhar o Brasil para a modernidade do século XXI, parece uma volta no tempo consagrando um modelo centralista, corporativo, cuja essência imperou nessa Constituinte, criando a “República do Quero o Meu”.

“A Organização partidária procede de uma forma similar à que emprega o movimento sindical. (…) A organização sindical é ainda a fonte inesgotável de onde o movimento político extrai o dinheiro necessário para alimentar seu formidável mecanismo. É o órgão de dominação necessário ao trabalho politico e atua como instrumento para as grandes demonstrações desse caráter.” Mein Kempf.

Quando vejo o imposto sindical ser consagrado no texto constitucional como avanço, comemorado por empresários e trabalhadores que fazem parte da corporação burocrática do sindicalismo brasileiro, me pergunto: como considerar o nazi-fascismo corporativista um avanço no tempo por aqueles que defendem a nova Constituição?

Nada mudou. Pelo contrário, consagrou-se um modelo histórico que a própria URSS, onde viveu Stálin, e a Europa de Hitler, Mussolini, Salazar e Franco, negam terminantemente, com o projeto Europa 1992 e a glasnost.

Resta uma esperança, pois uma das poucas emendas parcialmente sábias que foi incorporada ao texto constitucional assegura a possibilidade de revisão constitucional em1993 por maioria absoluta. Parcialmente, porque o ideal seria fazer essa revisão não daqui a cinco anos, mas sim durante os próximos cinco anos. Pois o choque será inevitável entre o Brasil modelo 1930 e o Brasil 1990. O primeiro nascido de uma revolução e o segundo de uma evolução que dará à sociedade, depois de 30 anos, a possibilidade de se manifestar livremente nas urnas no primeiro grande pacto povo e governante das últimas três décadas.

O Brasil da última eleição presidencial tinha um colégio eleitoral de 11 milhões de eleitores. O Brasil de 1989, um colégio eleitoral de 80 milhões de eleitores que, ao contrário de 1930, se apegarão a uma única arma, o voto.

O importante agora não é discutir candidaturas, aliás, todas elas arcaicas como o nosso modelo. E sim discutir um grande projeto do qual deve emergir uma candidatura para comandar o grande choque que não será entre a esquerda e a direita tradicionais, pois elas se igualaram na Constituinte, nem tampouco entre situação e oposição, pois elas se igualaram na Nova República.

 

Publicado na ISTOÉ SENHOR na edição de 11/7/88

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