Nenhum lugar é mais apropriado para discutirmos o Brasil real do que num encontro de prefeitos e secretários municipais, sobretudo, se eles estão preocupados em “reinventar o financiamento e a governança das cidades”, que é o tema deste IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, realizado pela Frente Nacional dos Prefeitos, em parceria com o Sebrae, até amanhã, em Brasília. E nós temos caminhos para apontar, a começar pela necessidade de se dinamizar as oportunidades para os pequenos negócios fora dos grandes centros. Esta é a base da economia verdadeira, que precisa se organizar e mostrar a sua força. Afinal, já em 2014, um levantamento feito pelo instituto de pesquisas Data Popular, em parceria com o Sebrae, mostrava que, de cada R$ 10 gastos no Brasil, R$ 4 correspondiam ao consumo efetuado no interior.
Isso aponta para a enorme importância dos pequenos negócios nas cidades de menor porte. Um cenário mais promissor quando se verifica que a metade da população brasileira reside no interior é que essas regiões vêm apresentando bons sinais de recuperação econômica. A pesquisa destacava ainda mais: que o consumo fora das capitais beira os R$ 900 bilhões ao ano, o equivalente a 38% de todo o país. E as micro e pequenas empresas lá instaladas conhecem melhor o mercado, são importantes para o desenvolvimento dessas cidades, pois é onde geram emprego e renda. E apresentam potencial de crescimento, à medida que a economia mostre sinais de recuperação e que elas recebam os incentivos para tanto.
E é aí que o Sebrae, mais uma vez, desempenha um importante papel, pois vemos o desenvolvimento de forma inclusiva, atuando para aumentar a competitividade, a transparência, a efetividade, a capacitação. Não à toa, um dos eixos deste encontro é exatamente “incentivo à economia local, empreendedorismo, emprego, trabalho e renda”. É no município onde o cidadão vive e é lá que devemos identificar as oportunidades para que os pequenos negócios prosperem.
Mas voltemos à pesquisa do Sebrae/Data Popular. Ela mostrava ainda que os 4,6 mil municípios brasileiros fora das capitais e regiões metropolitanas reúnem praticamente a metade da população, dois terços deles em áreas urbanas, movimentando bilhões de reais em compras locais, seja na manutenção do lar, seja em alimentação, itens de consumo ou mesmo viagens. Setenta e três por cento dos municípios do interior têm menos de 20 mil habitantes, o que pode ser bom para o pequeno negócio, que não são de interesse das grandes redes. E é esse segmento que pode florescer e ajudar na saúde da economia local. A saída, mais uma vez, passa pelos pequenos.
Por isso, o Sebrae é parceiro da FNP neste evento desde 2012 e, agora em 2017, estamos presentes de várias maneiras: com palestras e dicas de boas práticas para os municípios aproveitarem melhor os seus recursos naturais; nos debates sobre iniciativas para incluir a educação empreendedora na grade curricular das escolas, além de, num evento paralelo, promover o Seminário Brasil Mais Simples. Nele, serão discutidas formas para simplificar e desburocratizar a legislação e as exigências para abertura, encerramento e o funcionamento das micro e pequenas empresas.
Nesse seminário vamos desenvolver a base do Projeto Líder, como mais uma das ações do Sebrae visando incluir o empreendedorismo definitivamente na agenda da gestão municipal, a exemplo da saúde, educação, segurança e infraestrutura. A proposta envolve mobilização e apoio a lideranças para a otimização dos recursos locais, com ênfase nos pequenos negócios, de modo a promover a integração, a organização política e a qualificação das lideranças para a formulação e gestão das políticas de interesse público e regional. O Líder tem como público-alvo empresários, executivos, gestores municipais e representantes de entidades da sociedade civil, com perfil de liderança e potencial para construir uma rede de parceiros da comunidade.
Tudo isso dimensiona a importância dos debates que ocorrerão em Brasília nos próximos dias. É necessário aprofundarmos o debate sobre as saídas concretas para a crise que, a meu ver, passa pelos pequenos negócios e os pequenos municípios, a base da economia real de que sempre falamos. O momento é bastante oportuno para a reflexão de todos sobre a necessidade de organizar os segmentos da base da pirâmide que sustenta o Brasil real. Com a integração entre empresários e profissionais liberais com a massa trabalhadora, todos os que vivem em regime de mercado. A integração desses setores é que pode promover mudanças e combater os efeitos predatórios do triângulo de ferro que hoje controla o Brasil. Precisamos ajudar a organizar líderes comprometidos com o desenvolvimento local e do país. O Brasil de cima para baixo não deu certo. Vamos construir um Brasil novo, de baixo para cima.
Fonte: Jornal Correio Braziliense