Enquanto o líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos, acertava com o presidente da Casa, Marco Maia (PT-SP), a criação de 66 cargos para o partido, o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, coordenava reuniões que definiriam a revisão do pacto federativo e a racionalização dos gastos públicos como duas das principais bandeiras do programa do partido criado pelo prefeito Gilberto Kassab.
Em conversa com Poder Online, Afif disse não ver contradição no fato de o PSD defender o controle dos gastos públicos e a Câmara aprovar, na última sessão de votação do ano, o projeto que criou novos cargos para o partido ao custo de R$ 10 milhões ao ano: – Não fomos nós [que criamos os cargos]. Foram eles que criaram. Os outros partidos, para atender a necessidade do novo partido, resolveram criar os cargos.
Segundo ele, se os novos cargos não fossem aprovados, “caberia, então, a todos os partidos abrirem mãos de seus cargos para darem passagem ao novo partido”.
Poder Online – Como está a elaboração do programa do partido?
Guilherme Afif – Já lançamos todos os conselhos temáticos, já temos coordenadores que vão organizar os eventos em cima dos temas. Temos gente muito importante. Mesmo que não sejam filiados ao partido, mas que se predispuseram a colaborar com um projeto de nação.
Poder Online – Quem são eles?
Guilherme Afif – Arnaldo Malheiros na área da Justiça, o Fábio Feldman no meio ambiente, o embaixador Sebastião do Rego em toda parte de política internacional, o Henrique Meirelles no campo econômico, a Kátia Abreu no desenvolvimento rural, o Paulo Simão no desenvolvimento urbano, Odilon Wagner na área da cultura. É um senhor time. É quase um ministério.
Poder Online – Como a questão da tributação entrará no programa?
Guilherme Afif – Nós vamos tratar a tributação dentro de um tema específico, chamado pacto federativo. Porque “não adianta falar em tributação sem falar do pacto federativo e da descentralização de poder. A descentralização de poderes e recursos passa também por uma mudança de sistema político. Então tem que se falar de reforma política também, de voto distrital, que é o que o PSD está defendendo”. Tem toda uma lógica e uma coerência para que os debates sejam convergentes em cima de um projeto para o país.
Poder Online – Nesta lógica, entra também a questão do controle de gastos públicos?
Guilherme Afif – Sim, porque precisamos pensar na racionalização do gasto público. Hoje se tem muito desperdício porque a União faz o que o Estado deveria fazer. E vice e versa. É todo mundo querendo tudo ao mesmo tempo. Há uma dispersão de pessoas e uma dispersão de recursos. É preciso, então, reordenar tudo dentro de um pacto federativo. Primeiro reordenando funções para depois discutirmos recursos. E essas funções têm que reforçar os municípios porque é município que está perto do povo, é o município que sabe o que o povo precisa na área de educação, na área de segurança, na justiça. Mas são os municípios e os estados que têm menos recursos. A União concentra todos os recursos e fica muito distante do povo.
Poder Online – E como explicar a criação de 66 cargos na Câmara para o PSD ao custo de R$ 10 milhões ao ano? Não é contraditório?
Guilherme Afif Domingos – Não, porque caberia, então, a todos os partidos abrirem mãos de seus cargos para darem passagem ao novo partido. Os outros partidos, para atender a necessidade do novo partido, resolveram criar os cargos. Não fomos nós. Foram eles que criaram. Nós queremos o tempo de televisão que nós temos direito e o fundo partidário. Isso nós queremos.
Entrevista concedida ao blog Poder Online – 26.12.2011