O Brasil é pouco competitivo no mercado internacional e ganhar espaço lá fora é muito mais difícil para as empresas de pequeno porte, destaca o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Guilherme AfifDomingos. Ele admite que o governo vem se esforçando para mudar esse quadro, mas ainda há um grande caminho a ser percorrido para desatar o emaranhado de nós que é o comércio exterior no país. “Há um esforço.
Porém, falta uma integração maior entre as áreas do governo. Se não fica só o Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) fazendo força de um lado e o resto, para atrapalhar. O que precisa ser enfrentado no Brasil é uma coisa chamada corporativismo público e privado”, afirma. O número de micro e pequenas empresasexportadoras teve uma leve expansão devido à busca de novos mercados em função da recessão econômica dos últimos dois anos. Afif explica, entretanto, que nem sempre essas novas entrantes conseguem continuar exportando por muito tempo. Não à toa, a participação dessas companhias no grupo de exportadoras é de 38% — patamar parecido com o de 2009 — , mas representam uma fatia ainda pouco expressiva da receita com a venda de produtos nacionais no exterior: menos de 1%, de acordo com dados do presidente do Sebrae. Mercosul, União Europeia e América do Norte são os principais destinos de mercadorias dessas pequenas empresas, como vestuário, calçados, pedras preciosas, madeira e móveis. Entraves A falta de uma visão holística das cadeias produtivas e sua importância entre os técnicos formadores de políticas de comércio internacional são alguns dos entraves apontados por Afif. “É muito importante exportar, mas é importante também importar”, afirma. O presidente do Sebrae lembra que muitas empresas acabam tendo seus custos de produção elevados porque dependem da importação de insumos, que acaba sendo onerosa pela elevada carga tributária e pela burocracia.
O ex-ministro da extinta Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa defende um maior entrosamento das áreas de governo ligadas às trocas internacionais para que o país recupere a competitividade perdida. “O comércio exterior é um emaranhado de obstáculos que as empresas têm de ultrapassar. A grande tem estrutura, tem casco para enfrentar esse mar. A pequena não tem. Portanto, está sempre alijada e quando faz é esporadicamente e não é uma decisão de empresa”, destaca. Para Afif, a legislação atual foi formatada para criar um cartório a fim de incentivar a burocracia em vez de simplificar o processo de desembaraço de produtos. Ele até brinca com o uso do termo “desembaraçar o produto” na alfândega. “A cultura é para embaraçar mesmo”, diz ele, rindo. Na opinião do ex-ministro, há certa hegemonia das decisões políticas no Ministério da Fazenda e na Receita Federal. Crédito escasso Um dos maiores obstáculos das micro e pequenas empresas para exportarem é a falta de financiamento.
“O crédito não chega à pequena empresa no Brasil, e esse é o grande desafio para esse exportador”, afirma o presidente do Sebrae. O governo, segundo ele, está come- çando a ficar com vergonha diante d a concentração do mercado financeiro. “As altas taxas de juros de crédito são fruto da falta de concorrência no país”, pontua. Não há dúvidas entre os especialistas de que o avanço das exportações também depende da ampliação de acordos bilaterais e multilaterais que precisam avançar mais rapidamente com o objetivo de alavancar as trocas comerciais. Nesse sentido, o presidente do Sebrae defende a criação de um simples internacional, começando pelo Mercosul, para que o livre comércio do bloco seja mais efetivo. Afif conta que dialogava muito com empresários quando ele foi ministro-chefe da Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa e que, agora, eles integram o governo de Mauricio Macri. No entanto, ainda é preciso um acordo entre os dois países para avançar a parceria bilateral. “A globalização não chegou para os pequenos. Vamos ser claros. O comércio internacional é ditado pelas grandes corporações e temos acordos que amarram um monte de reserva de mercado”, lamenta.
Fonte: Correio Braziliense, 28/11/2017