A presença de empreendedores em Cuba, durante a marcha do Dia do Trabalho – ainda que em número limitado – reflete as mudanças no país. Com a redução da capacidade do Estado de atender às necessidades básicas dos cidadãos, o governo cubano passou a fornecer licenças para trabalho autônomo e contratação de habitantes como funcionários. Nos últimos quatro anos, mais de 250 mil empreendedores e seus funcionários ingressaram no setor privado.
Em dois anos, o governo cortou mais de 350 mil funcionários do setor público, que emprega mais de 4 milhões dos cerca de 11,2 milhões de cubanos. Agora o governo conta com a categoria dos empreendedores para absorver os milhares de funcionários públicos que pretende demitir.
Ainda que pequeno, e com limitação de ramos de atuação por conta do Estado, o setor privado está mudando a cultura de trabalho na ilha, colaborando com o setor estatal em algumas coisas e competindo em outras. O Estado agora compra produtos de empreendedores que, por sua vez, podem contratar fornecedores estatais.
As novas liberdades econômicas e os impostos pagos pelo setor privado também começam a afetar a relação entre indivíduos e o Estado.
“A disposição das pessoas a expressar um ponto de vista alternativo claramente cresceu”, diz Richard Feinberg, professor da Universidade da Califórnia em San Diego. “Mas demorará um pouco para que surja uma consciência de classe e uma articulação política dos seus interesses.”
Fonte: Folha de S. Paulo