SANTA CATARINA – A popularização das máquinas de cartão de crédito e débito chegou às ruas. Os aparelhos, comuns nas bancadas do comércio, circulam também nas mãos de profissionais autônomos e microempreendedores individuais (MEIs) que batem perna para vender seus produtos.
São eles a grande aposta das empresas de cartão de crédito para aumentar as transações com esse tipo de equipamento — também conhecido como point of sales (POS) —, que no primeiro semestre deste ano somava 4,2 milhões de terminais no país, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).
Em Santa Catarina, os profissionais reclamam das taxas cobradas para se ter a máquina, mas a tendência é aumentar o número de trabalhadores com esta opção de pagamento, hoje limitado em 10% dos MEIs, uma média de 30 mil pessoas.
A assessora de administração e finanças do Sebrae-SC, Katia Regina Rausch, explica que a categoria enfrenta dificuldade em obter os equipamentos pelo custo fixo que terá de pagar — cerca de R$ 80 —, quando analisado o risco de se estabelecer no mercado como microempreendedor.
— O MEI trabalha onde há movimento de pessoas e, com a possibilidade de o cliente pagar com cartão, as vendas tendem a aumentar — diz Katia.
Para o diretor da Abecs, Ricardo Vieira, a justificativa para 26% das compras no Brasil serem feitas por cartão de crédito ou débito é a segurança, a comodidade em não precisar sacar dinheiro em caixas eletrônicos e a facilidade em acompanhar os gastos mensais.
Entre as vantagens para as empresas que trabalham com cartões está a queda da inadimplência, já que o pagamento é garantido pelos bancos. Além disso, essa opção substitui os cheques, que tiveram uma redução de 49% desde 2008.
Vendas com terminal até em ponto de ônibus
Consultor de uma marca de cosméticos há três anos e meio, Gilmar José da Silva oferece há dois a possibilidade de pagar com cartão de crédito e débito os produtos.
Enquanto visita os cerca de 300 clientes pelas ruas de Florianópolis e São José, carrega duas máquinas de cartão e um adaptador que, encaixado no smartphone, o transforma em um terceiro equipamento. O vendedor comenta que as despesas para manter os aparelhos compensa pela segurança em receber os pagamentos e, principalmente, porque muitos clientes não andam com dinheiro em papel.
— Faço vendas até em ponto de ônibus com as máquinas de cartão. Os pagamentos por meio delas representam 40% meu do faturamento total.
Turismo à base de dinheiro vivo
Enquanto os terminais se tornam cada vez mais populares em estabelecimentos pequenos, em Urubici, município na Serra catarinense que chega a ter ocupação máxima na rede hoteleira durante as ocorrências de neve, o cenário muda.
Muitas vezes, os turistas desavisados se deparam com a resposta de donos de pousadas e restaurantes de que não aceitam cartão.
Adélcia Zenaide Borba de Souza, presidente da Pouserra, associação do trade turístico do município, afirma que a adesão é baixa às máquinas de cartão de crédito e débito porque o turismo na região é sazonal e faz com que a taxa de aluguel da máquina na baixa temporada não compense.
Ela conta que já chegou a oferecê-la em sua pousada, a Casa da Serra, mas desistiu por não ser rentável.
Adélcia afirma, entretanto, que a falta de uma máquina de cartão de crédito e débito atrapalha o turismo na região, especialmente se o banco do cliente é o Itaú, que não possui caixa eletrônico no município. O turista que precisa sacar dinheiro pelo banco tem de percorrer um trecho de 110 quilômetros até Lages.
Entrevista
“Aceitar cartões é um investimento”
Há quase 20 anos no mercado, a Cielo possui mais de 1,4 milhão de pontos de venda ativos no Brasil. Em entrevista ao Diário Catarinense, Adriano Navarini, diretor comercial da empresa, destaca o aumento das transações de valores baixos com o equipamento e afirma que os pequenos e médios negócios são os principais beneficários.
Diário Catarinense — Tem crescido a parcela de clientes da Cielo que são microempreendedores individuais?
Adriano Navarini — Sim. Pequenos e médios negócios são os principais beneficiários da evolução dos meios de pagamentos eletrônicos. Para eles, aceitar cartões é um investimento: pela facilidade e pela grande aceitação. Hoje, segundo a Abecs, 76% da população brasileira possui algum tipo de cartão. Apenas em 2012, R$ 724,3 bilhões de reais do total de gastos do consumidor em 2012 passaram pelos cartões, o que representa 26,4% do consumo. Este é um mercado que cresce próximo da 20% todos os anos e vem registrando aumento crescente também das transações de pequeno valor, substituindo cheque e dinheiro.
DC — O que leva os MEIs a investirem em máquina de cartão de crédito e débito? Navarini — Os meios eletrônicos de pagamentos trazem muitos benefícios para o dia a dia dos empreendedores. Segundo a Abecs, hoje, 54% do faturamento médio mensal dos estabelecimentos comerciais que aceitam meios eletrônicos são provenientes dos cartões de crédito ou débito. Com os fenômenos da crescente “bancarização” da nossa população, a tendência é que cada vez mais pessoas tenham acesso aos cartões e passem a utilizá-lo como principal meio de pagamento, o que deve se refletir progressivamente no consumo de produtos e serviços no dia a dia.
DC — MEIs reclamam das taxas praticadas pelas operadoras de cartões. A empresa tem facilidades para esta categoria e para os microempresários?
Navarini — A taxa cobrada de cada cliente varia de acordo com uma série de fatores, como produto (crédito, débito ou parcelado), bandeira, ramo de atividade e ticket médio. Outros dois produtos são relevantes para o incremento do fluxo de caixa dos estabelecimentos: a antecipação de vendas e o Cielo Recarga.
DC — Existe uma solução desenvolvida pela marca para os empresários em questão?Navarini — A Cielo conta com hoje mais de 1,4 milhão de pontos de venda ativos em todo o país. A nossa atenção em desenvolver soluções para os pequenos empreendedores não é recente. Um exemplo é o Cielo Mobile, uma plataforma para pagamentos eletrônicos baseada em um aplicativo para smartphone que permite a conexão via bluetooth com um leitor de cartão chip e senha que, além de crédito e crédito parcelado, aceita débito, voucher e crediário.
Fonte: Diário Catarinense