A crise política e econômica que imobilizou praticamente toda Esplanada dos Ministérios, em Brasília, gerou uma oportunidade para o ministro Guilherme Afif Domingos, da Secretaria da Micro e pequenas empresas. Um dos poucos a ter uma agenda positiva em mãos para discutir com a presidente Dilma Rousseff, ele tenta cavar mais espaço para sua pasta e seu partido, o PSD, no Palácio do Planalto, desengavetando uma das suas principais bandeiras: um conjunto de medidas para tentar desburocratizar a vida dos cidadãos e dos pequenos empresários.
O teste que poderá confirmar se a estratégia está sendo bem sucedida será o aval da presidente para as propostas que desoneram o setor, num momento em que a equipe econômica não só fechou o caixa para os gastos, como forma de melhorar as contas públicas, como também anda atrás de mais receitas que ajudem na missão.
A ascendência do ministro – que estreitou os contatos com a presidente e concentrou suas atividades em Brasília, deixando em segundo plano compromissos semanais que mantinha em SãoPaulo – fez acender a luz amarela dentro do PT. Integrantes do partido questionam as pretensões políticas do ministro e do PSD, para as eleições de 2016, como de 2018. O partido também comanda o Ministério das Cidades.
Em entrevista exclusiva ao Fato Online, é taxativo quando questionado sobre o assunto: “Não, não tenho projeto [político]”. Para ele, isso, inclusive, é o que lhe garante mais facilidade nas negociações da pasta porque parlamentares e integrantes do governo não precisam vê-lo como um concorrente. Mas, se para algumas pessoas próximas, ele é o “o homem certo na tarefa certa”, para outros, ainda gera “dúvidas”. Sobretudo porque uma das lideranças do seu partido, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, pode ser uma opção para vice do PT nas eleições de 2018.
“Não estou preocupado se estou atendendo partido A ou B porque eu tenho interesse de me acertar com eles. Trabalho para todos”, diz Afif. “Você trabalhar para o todo dá uma liberdade extraordinária, de relacionamento, de poder entrar no Congresso e as pessoas saberem que você não está fazendo algo que possa concorrer com ele”, declarou.
Por enquanto, vem conseguindo algumas vitórias. Conseguiu aprovar no Congresso Nacional, com apoio da oposição, a nova Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, também conhecida como Supersimples, e emplacou o fechamento automático de empresas de todos os portes, que reduziu o tempo médio de 83 para 5 dias.
Agora, promete para o primeiro semestre do ano, também facilitar a abertura de empresas, o que poderá melhorar a classificação do Brasil no Banco Mundial entre os países empreendedores.
A revisão da tabela do Simples é mais um teste do poder de Afif junto a Dilma. Isso porque elevar o teto de faturamento para inclusão de empresas no Super Simples tem um custo fiscal. Para Afif, a discussão que ainda está no Congresso, deve terminar até o fim do primeiro semestre e o novo teto de R$ 7,2 milhões seria anunciado. E, nesse caso, adota um tom imperativo: “tem de fazer”.
Durante cerimônia de lançamento do programa “Bem Mais Simples Brasil”, há cerca de dez dias, chegou até mesmo a cobrar atuação política da presidente, tanto para garantir a aprovação do novo teto, como na criação do cadastro único de identificação do cidadão. Outra medida proposta por ele.
“Falta ainda uma etapa do Simples, a rampa que a senhora [presidente Dilma Rousseff] prometeu para crescer sem medo. (…) Para isso, é necessário que os demais ministérios se adequem e centralizem informações. É preciso cobrar”, disse na solenidade. Presente ao evento, Dilma não esboçou nenhuma reação à cobrança pública.
Ao contrário, Afif diz que a sua aproximação com a presidente é uma questão de identificação. “Ela pensa exatamente como eu penso. [Pensa] no universo do andar de baixo da economia, que poucos enxergam. E foi com essa condição que eu vim para cá. Dizem: ah… foi acordo político, foi coisa nenhuma!”.
Recentemente, o ministro da micro e pequena empresa trocou São Paulo por Brasília, para estar 100% envolvido com as demandas da pasta. Por isso, a família, só o vê aos fins de semana. Aí, aproveita para viajar em um micro-ônibus que mandou adaptar, para levar seus 10 netos para uma de suas casas fora de São Paulo.
Ele gosta, especialmente, da serra, onde aproveita para praticar esportes, como caminhada. “Diz que o melhor dos filhos é que eles nos dão os netos, então eu curto isso ao extremo”, sorri.
Em Brasília, optou por ficar hospedado em um hotel. Assim, abriu mão de um de antigo hobby, fumar charuto. “Eu moro em um hotel, então praticamente é impossível, você não tem local para fumar a não ser ao ar livre. Não é a mesma coisa”, afirmou. Em São Paulo, costumava frequentar uma charutaria num bairro nobre onde aproveitava para curtir amigos como os ministros Dias Toffoli e Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-ministro Nelson Jobim, o jurista Antonio Malheiros e artistas como os irmãos e Cássio e Tato Gabus Mendes e a cantora Fafá de Belém.
Mas, ressalta, que sempre era o diferente da mesa, “pois eu não bebo”, explicou. Agora, diz que está aprendendo a apreciar a capital federal, cidade que, segundo ele, está bem diferente de quando esteve aqui como deputado constituinte, em 1988. Vinte e cinco anos depois, argumenta que encontrou uma cidade dinâmica, planejada, com bons restaurantes, shoppings com o mesmo padrão de São Paulo.
Fonte: Fato Online