A lição de JK

14 de setembro de 1988
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Comemoramos esta semana o aniversário do nascimento de Juscelino Kubitschek de Oliveira, o JK, como todos nós o chamamos. É uma data marcante pela saudade e também pela esperança. Qual dos seus contemporâneos, inclusive os que foram seus inimigos, não se recorda daquele sorriso de bondade e confiança? Quem não o admira ainda mais pelas qualidades de administrador e de político, preocupado acima de tudo com o bem público? Quem ainda hoje não exalta a coragem com que enfrentou os mais duros obstáculos para legar a todos nós uma nação mais rica e soberana?

No 3º volume de seu livro memórias, à página 445, ele escreveu: “Naquela manhã, vivendo a tranquilidade que respirava no interior do meu apartamento no Hotel Nacional, circunvaguei o olhar pelo que me cercava. Todas as coisas estavam nos seus lugares como já me habituara vê-las naqueles dias desde que deixei o Alvorada. Os livros. A pilha de malas. Algumas pastas repletas de cartas, que iria responder de Paris. E o enorme mapa do Brasil que durante cinco anos servira de roteiro para a execução do programa de metas. Contemplei-o demoradamente. Estava pontilhado de cruzes”.

Aí está o mais importante traço da sua ação administrativa: JK trabalhava em cima do mapa do Brasil e não nos planos da tecnocracia presunçosa, dominados por estatísticas falaciosas e por conceitos livrescos, triunfantes nos Governos que se seguiram.

A burocracia brasileira, que ele herdou do Estado Novo, já estava velha e esgotada. Enfrentou-a o foi em busca da verdade que emanava do Brasil real, sequioso de mudanças e que se recusava a permanecer miserável e alijado do progresso.

Juscelino foi a campo, conviver com o Brasil gigante, imobilizando e contemplativo. Foi sentir as multidões distanciadas dos gabinetes confortáveis da capital. Deu velocidade ao Governo e incentivou a produção, identificando as nossas potencialidades. Elaborou as prioridades objetivas do seu vitorioso programa de metas e, nesse processo construtivo, viveu, vibrou e desafiou os obstáculos, ao mesmo tempo em que afastou a rotina, castigou a incompetência e despertou o povo para uma nova etapa de sucessos que mudou o rumo da nossa história republicana.

Lá vem JK. Assim o povo se expressava ao ver surgir o avião do presidente inquieto e inconformado com os números e o palavrório da papelada oficial. Eram os habitantes dos mais longínquos povoados do Brasil onde ele ia iniciar obras, fiscalizá-las e inaugurá-las, sempre com a imagem do otimismo e da esperança. Lá vem JK, era o que diziam os candangos trazidos de todo o Brasil para a construçãoda “nova capital’.

Embora sofresse muitas pressões do velho Brasil oligárquico que estava sendo desafiado por sua energia desenvolvimentista, Juscelino não mentiu, não se intimidou, nem se acomodou. Os inconformados não o perdoavam, os sequazes da intolerância queriam o Brasil fechado e impermeável à modernidade. Os beneficiários da engrenagem corporativa não queriam a presença do capital de risco estrangeiro no Brasil.

Eles reivindicavam a continuidade do endividamento externo para engordar o capitalismo de estado implantado no Estado Novo. Mas o Brasil despertou e seguiu JK para a revolução pacífica do desenvolvimento baseada nos 30 pontos integralmente cumpridas do programa de metas, de que Brasília foi a meta síntese.

Os brasileiros puderam sentir cinquenta anos de desenvolvimento em cinco, ao ser concluído o Governo do maior administrador da nossa história, que, ao mesmo tempo em que promoveu o crescimento não admitiu perseguições. Não realizou sequer urna prisão política, respeitou integralmente a liberdade de imprensa, não distinguiu entre amigos e adversários no cumprimento das providências administrativas e da justiça, desfazendo qualquer atmosfera de ódio e separatismo.

A obra de JK não precisa da nossa defesa. Ela está tão presente tão viva em cada pedaço do Brasil que não há como eliminá-la. Aí estão os índices da nossa produção energética, da produção mineral, da produção de veículos automotores, da indústria química e farmacêutica, da ampliação dos portos, da indústria naval, da ocupação do oeste, do desenvolvimento do Nordeste, da ampliação da malha rodoviária e de tantas obras de base que surgiram como consequência do estímulo e da iniciativa do poder público, sem falar no número de empregos criados e nos resultados tão positivos do investimento na inteligência.

A administração de JK é, acima de tudo, a demonstração do que o povo brasileiro, quando se dispõe, sabe cumprir as metas mais audaciosas vencendo todas as dificuldades. Um povo que em três anos ergue no centro de sua pátria uma obra como Brasília não pode recear quaisquer perspectivas menos favoráveis da conjuntura.

O projeto juscelinista baseou-se na ideia de desenvolvimento com liberdade. E os seus sucessores, ao ignorar isso, regrediram aos conceitos consagrados pela supremacia do Estado forte e onipresente beneficiário exclusivo do esforço coletivo. Estamos sucumbindo hoje à política jactanciosa e perdulárias das administrações distanciadas das aspirações populares e do convívio democrático entre governantes e governados.

Os desafetos de Juscelino pretenderam ignorar a sua obra e denegrir a sua imagem. Humilharam-no com o ultraje da prisão e do exílio. Foram condenados pelo esquecimento histórico e repudiados pelas gerações que renovam no exemplo do estadista que permanece vivo na memória brasileira.

JK predisse certa vez que “nós devemos habituar e encarar o País com mais respeito pela obra dos que nos antecederam. Não esqueçamos, dizia ele, “que a pátria não se inicia com cada geração que surge, e muito menos com cada governo que começa”.

Este homem é o estadista compenetrado de sua missão histórica que se alçou bem acima do pântano da política menor. Que se distanciou da mediocridade punitiva dos seus repressores. Que se identificou com sua gente e serviu à sua pátria acima dos ódios e das competições subalternas.

JK não morreu. Sua vida o sua obra representam a vitória do povo brasileiro contra as minorias ressentidas praticantes da velha política decadente e reacionária.

Os alienados de direita e de esquerda tudo fizeram para vencê-lo, e aqui estamos para proclamar sua vitória. A humanidade, como ele dizia, não caminha para os lados, caminha para a frente. E é para a frente que desejamos caminhar, deixando para os lados a escória ideológica que a história já condenou irremediavelmente ao desaparecimento.

À luz do exemplo de JK sairemos das sombras e recomeçaremos a caminhada pelo desenvolvimento com liberdade, como anseia  o povo brasileiro.

 

Publicado no Jornal de Brasília em 14/09/88

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