Volta às origens

6 de dezembro de 1981
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O secretário da Agricultura, Guilherme Afif Domingos, já esboçou sua plataforma de Governo. Ele a define como bandeira. “É a volta ao lar, uma proposta de fortalecimento da agropecuária e de reversão do processo de urbanização”. Afif critica o plano de humanização das favelas e justifica o fato de não ter aparecido com destaque nas pesquisas eleitorais “é porque não encomendei nenhuma até hoje.”

Secretário, sua candidatura a governador não seria prematura, levando-se em conta o noviciado político e administrativo?

Atribuo a minha candidatura, em primeiro lugar, ao fato de ter assumido uma secretaria que considero a mais importante na atual conjuntura. A agricultura paulista tem uma tradição. Nosso Estado foi construído à base da agricultura. Agora, com a prioridade traçada pelo presidente Figueiredo à agropecuária, a Pasta assume uma liderança até mesmo no plano nacional. Nosso nome é lembrado, graças à identificação com os agricultores e a máquina. E porque defendemos a bandeira da agricultura.

Que mensagem o sr. pretende levar ao eleitorado de São Paulo, caso a convenção do PDS venha a indicá-lo candidato a governador?

Minha mensagem é também uma plataforma, sendo ou não candidato. É a mensagem de alguém que acredita nos destinos da Pátria. Onde estiver, alertarei: vamos parar de atacar os efeitos e cuidar das causas dos nossos problemas. E a maioria das causas provém de uma distorção: houve nos últimos 30 anos política urbana e industrial. Nada de política agrícola. Agora, é preciso reverter o processo. Investir no homem, formar mão de obra especializada na agricultura. O Senai e o Senac atuam em favor da qualificação do trabalhador da indústria e do comércio, mas o Senar, que deveria especializar o trabalhador rural, ainda é letra morta. Hoje, o favelado urbano é um ex-camponês, que não aguentou permanecer na zona rural. Tenho apoio enorme de um exército que se está formando. Muita gente vai assustar-se com as bases desse movimento.

O sr. afirma que seu trabalho se desenvolve junto às bases. O PDS não estaria mais interessado num candidato que pudesse usar com toda a desenvoltura a máquina administrativa?

O PDS tornou-se um partido de defesa. Os partidos de oposição jogam no ataque. Minha posição é diferente. Prefiro o contra-ataque. Não sou um oportunista e nem pretendo fazer casuísmos políticos para conseguir promoção. E se não houver um reconhecimento imediato dessa bandeira, ela será um imperativo daqui a quatro anos. Não estou na política para plantar couve… Quero plantar carvalho.

A bandeira que o sr. desfralda não sensibilizaria mais o eleitorado do interior do que o dos grandes centros, onde a oposição tem conseguido sucessivos êxitos eleitorais?

A bandeira que desfraldo é a da volta ao lar. Não é humanizando a favela que resolveremos o problema de 70% da população angustiada das grandes cidades. Esse contingente foi expulso das áreas de origem. Eles choram com os acordes da moda de viola. Pretendo, isto sim, interpretar os anseios da população. Hoje, o abastecimento é questão fundamental. Fala-se muito em energia e em combustível. O combustível do povo está sendo esquecido.

Quer dizer que, a esta altura, o sr. vai disputar a convenção do PDS?

Até hoje não recebi nenhum sinal vermelho. Política não se faz bajulando a cúpula. Esse processo está superado. Há várias pessoas que continuam a insistir na obtenção de apoio superior.

O fato de o governador Paulo Maluf deter o controle da convenção e a visível preferência de alguns assessores palacianos pelo seu nome representam vantagem em relação aos concorrentes?

Deus ajuda a quem se ajuda. Ou seja, o governador já deixou bastante claro que o candidato dele será aquele que receber a indicação dos convencionais do PDS. Qualquer imposição irá refletir-se depois na boca de urna.

Para reforçar sua candidatura, o sr. procuraria o ex-governador Laudo Natel?

Em política, o diálogo sempre é importante. Agora, reforço de candidatura deve dar-se junto às bases.

E o governador Paulo Maluf estaria também reforçando as bases para uma eventual candidatura à Presidência da República?

Galgar postos superiores é uma justa aspiração daqueles que servem na administração. O governador sempre procurou ascender na vida. Acho também que será um imperativo histórico, pois a preservação de São Paulo como simbologia das forças nacionais em termos de trabalho está a exigir uma representação paulista perante o País.

O “pacote” eleitoral criou facilidades ao PDS em termos nacionais. Em São Paulo, a vinculação de votos não poderá produzir um efeito contrário?

O “pacote” não veio para beneficiar o PDS. Ele ajudará a estruturação partidária. Partido forte não é aquele que sai por aí, fantasiado de oposição, criticando o Governo, para conseguir espaço nos jornais. No pluripartidarismo, o essencial é a autenticidade das mensagens. Não há lugar para desfiles de gente com salto alto. Acho que as possibilidades são de quem trabalha.

Dizem que, se o sr. estivesse na Prefeitura, o candidato natural do PDS…

Se estivesse na Prefeitura talvez não tivesse descoberto uma fórmula viável para os principais problemas do Brasil.

A agricultura será a saída para a crise social e econômica do Brasil?

É a melhor saída. O Estado de São Paulo implantou toda a sua infraestrutura calcada na agropecuária. Hoje, temos rede de energia elétrica ociosa, ferrovias e rodovias ociosas, enfim, setores básicos semi-aproveitados. Por que não reaproveitar o que está implantado? O caboclo diz com muita propriedade que “este é o País das grandes iniciativas, só faltam as ‘acabativas”…

A reforma agrária volta ao cartaz econômico. Teria soado a hora de incrementá-la?

O Brasil é um continente. Temos profundas diferenças regionais. Ocorre também que se discute muito a legislação, sem que se tenha aplicado o estoque de leis existentes. Em São Paulo, se eu tiver o privilégio de estar numa posição de influência no futuro, aplicaria o que preceitua o Estatuto da Terra. Daria aos Municípios a condição de participar do planejamento agrícola. Atualmente, os Municípios são meros administradores da região urbana. Mesmo porque fica muito difícil para o Incra taxar todas as propriedades a nível nacional. Queremos fortalecer os Municípios, atribuindo-lhes a execução do plano diretor rural. Assim, faremos uma reforma agrária sem demagogia.

Por que seu nome não figura em posição destacada em todas as pesquisas eleitorais feitas até hoje?

Porque eu me neguei até agora a encomendar pesquisas…

 

 

 

Publicado no jornal Shopping News no dia 06/12/1981.

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