A era JK

13 de setembro de 1988
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Orgulho de ser brasileiro. Embora os mais jovens não se recordem, esse era um sentimento forte e vibrante, que durante um período refletiu até no admirável florescimento cultural, artístico e esportivo que o país viveu.

Quem não se lembra ou não ouviu falar na emoção da primeira vitória na Copa do Mundo, das sucessivas vitórias da tenista Maria Ester Bueno, de Ademar Ferreira da Silva, primeiro atleta olímpico a trazer o ouro para o Brasil, do primeiro carro brasileiro? Não por acaso, tudo isso aconteceu durante o governo de Juscelino Kubitschek, que lembramos hoje pela passagem de seu aniversário.

O desenvolvimento com liberdade, objetivo maior do plano de metas de JK, promoveu o engajamento do povo brasileiro ao espírito de sua época, impulsionou nosso desenvolvimento e permitiu a explosão da criatividade que caracteriza o nosso povo, além de marcar fundo a mentalidade da época com o sentimento forte de orgulho pelo Brasil, pelo crescimento expressivo, pelo florescimento industrial, pela proliferação de cursos e centros de tecnologia pesquisa, pela afirmação de uma inteligência nacional afinada com a realidade de seu tempo.

Hoje, ao lembrarmo-nos de Juscelino, pensamos imediatamente em integração nacional como um tributo ao seu estilo de governar, sempre como mapa do Brasil, familiarizado às nossas contradições geográficas, preocupado com o desenvolvimento harmônico e equilibrado, longe da tecnocracia, das estatísticas falaciosas e dos conceitos abstratos a que nenhuma realidade se encaixa.

JK voltou as costas à burocracia decadente que herdou do Estado Novo e saiu em busca do Brasil, ansioso por mudanças e por progresso. E nessa busca incessante, aproximou-se do povo brasileiro, que via nele a própria imagem da esperança e do otimismo.

O programa de metas de seu governo, cuja expressão mais forte é Brasília, trouxe para o Brasil os 50 anos de desenvolvimento em cinco com a expansão do setor siderúrgico da indústria de bens de consumo, da indústria automobilística, de autopeças e eletrodomésticos e da indústria da construção civil.

A identificação de JK com o espírito pioneiro de São Paulo, responsável por sua condição de maior centro urbano da América Latina, manifestou-se no grande impulso desenvolvimentista que ele levou às demais regiões do país, com a mobilização de recursos para a industrialização. Não cabe discutir agora se esses recursos vêm sendo ou não bem geridos. O importante é que eles passaram a existir com o processo de industrialização. É preciso agora concluir o ciclo iniciado por JK com investimentos na agricultura e na agroindústria.

Embora sofresse pressões do velho Brasil oligárquico, que estava sendo ameaçado pela energia desenvolvimentista do presidente, ele nunca se intimidou, nem se acomodou. Num clima de absoluta liberdade, sem restrições à imprensa, sem realizar prisões políticas, sem intolerância com seus adversários, JK administrou o Brasil de acordo como seu plano de metas, deixando como legado esse grande salto de desenvolvimento que a sociedade brasileira aspira retomar e concluir.

A experiência do governo JK é a prova mais significativa da capacidade e da iniciativa do povo brasileiro, que construiu uma nova capital em três anos, desbravando seu ainda inexplorado território.

Aos que procuravam responsabilizar seu plano de governo pela expansão do processo inflacionário, Juscelino respondeu com dados, mostrando que a origem da aceleração inflacionária estava no governo de 30, a partir da crise no mercado internacional do café.

Na verdade, o processo inflacionário que foi corrigido nos primeiros anos da revolução de 64 originou outro processo inflacionário a partir da recuperação do modelo do Estado Novo pelo governo militar quem resolveu seguir a cartilha dos “nacionalisteiros” de esquerda e de direita e fazer o desenvolvimento não com a abertura aos capitas e sim na base de empréstimo para criar uma economia fechada. O resultado é esse que conhecemos.

Para JK, a saída para as dificuldades que o país passou a enfrentar com o surgimento do surto industrial a partir da crise do café, estava na conclusão desse surto, e não em sua interrupção que comprometeria o desenvolvimento do país e seu caminho rumo ao futuro de grande nação a ele destinado.

Vivemos um hiato de 27 anos do obscurantismo e substituição da iniciativa privada pelo Estado. Mas a obra de JK continua tão presente e tão viva e cada pedaço do Brasil que não há como ignorá-la. Aí estão os índices da nossa produção de energia, da produção mineral, da expansão da indústria automobilística, da indústria química e farmacêutica, da ampliação dos portos, da indústria naval, da ocupação do Centro-Oeste, do desenvolvimento do Nordeste, da ampliação da malha rodoviária e de inúmeras obras de base que surgiram como consequência do estímulo do poder público, com reflexos importantíssimos no número de empregos criados e nos resultados do investimento na inteligência. Mas como lembrança maior desse período está o orgulho de ser brasileiro, que os jovens, ansiosos por sair do país em busca de oportunidades, não têm mais.

No dia do aniversário desse grande emissário da esperança, faço um apelo a todos os brasileiros para que fiquem e lutem. Vamos unidos em torno de um projeto nacional que tenha a sociedade brasileira como beneficiária, resgatar a nossa cidadania e recuperar o orgulho nacional.

 

Publicado na Folha de S.Paulo, em 13/09/88

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