O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, ressalta o papel do empreendedorismo na geração de empregos e fala sobre a importância do Prêmio Antônio Proost Rodovalho.
Qual o significado e o sentido do empreendedorismo nos dias de hoje para a economia do Brasil?
É a partir da ação empreendedora que surgirão os novos empregos do País, daqui para frente. Somente com a abertura de novos negócios conseguiremos um movimento de geração de postos de trabalho à altura das necessidades da Nação. Como já se sabe, o crescimento de grandes empresas não leva à criação numerosa de vagas. A alta tecnologia encontrada nas companhias desse porte dispensa a contratação de um contingente grande de pessoas.
São conhecidas as dificuldades enfrentadas por pequenos empresários. Quais os principais desafios dos empreendedores brasileiros?
A burocracia e a quantidade de diferentes tributos cobrados dos pequenos empresários são nocivos ao equilíbrio e funcionamento de uma empresa. E, enquanto não tomarmos medidas para desonerar e facilitar os caminhos legais para a criação e a manutenção de empreendimentos, a maioria seguirá tropeçando nos próprios erros e desistindo no meio do caminho. Temos um enorme potencial, estamos entre os países mais empreendedores do mundo. É urgente a mudança no tratamento das pessoas jurídicas. Infelizmente, nós ainda somos o Pais dos cartórios…
Aulas sobre empreendedorismo nas escolas poderiam facilitar o desenvolvimento de empreendedores mais preparados futuramente?
Definitivamente, não. Empreendedorismo não se ensina, se estimula. Quem nasce com a vocação empreendedora precisa de oportunidades e crédito, porque a coragem para pôr o pescoço a prêmio esse sujeito já traz consigo. É possível lapidar o talento, trazer informações que aprimorem sua atuação como empresário. Outra posição importante é o apoio da Associação Comercial de São Paulo aos empreendedores corporativos, ou seja, aqueles empregados que fazem suas companhias crescerem e se sentem parte desse movimento positivo. Este agente é fundamental. Ele não teme o risco e contribui com inovações para o negócio.
Qual o objetivo da Associação Comercial com a entrega anual do prêmio Antônio Proost Rodovalho?
A premiação festeja justamente os homens que foram capazes de arriscar em busca de uma vida melhor. É uma forma de enaltecer, levando ao conhecimento de todos o reconhecimento da instituição à participação desses empreendedores na economia brasileira. O prêmio também resgata o espírito que predestinou a cidade de São Paulo desde o início da história do Brasil. O padre Anchieta foi um dos primeiros empreendedores juntamente com o padre Manuel da Nóbrega. Em uma descrição da conversa dos dois há a seguinte afirmação: ‘esta terra é nossa empresa’. A capital paulista foi a base das bandeiras que desbravaram o País, construindo a brasilidade por todo o território.
Neste ano a edição do prêmio a ser entregue na semana de aniversário de 450 anos da capital será diferente. O que levou a Associação a escolher sete nomes e não apenas um, como normalmente ocorre?
A comemoração especial se deve à chegada das cartas escritas pelo padre Anchieta no Brasil. Os documentos descrevem o dia-a-dia do início da construção do País. Mostram as dificuldades e limites que teve de enfrentar. Em um dos trechos, ele diz que esqueceu-se das dores que o atormentavam. Anchieta era hipocondríaco, mas como não havia médicos por aqui deixou de se sentir doente e ainda assumiu os papéis de médico e enfermeiro das comunidades indígenas. Superou seus limites e enfrentou as adversidades. O sentido do evento deste ano é transmitir essa motivação às gerações mais jovens. Por isso, decidimos premiar e contar as histórias de sete importantes empreendedores de São Paulo. Será produzido um livro com biografias dos escolhidos e posteriormente um documento, que deve ser lançado em agosto deste ano, numa reunião nacional de jovens empreendedores.
A escolha de cada um dos empreendedores remete a um olhar sobre a história da cidade. Seria possível resumir a parte representada por cada um dos premiados deste ano?
Para começar, quem não conhece a tradicional figura do “português da padaria”? Valentim Diniz, o patriarca do Grupo Pão de Açúcar, foi o bravo comerciante que por trás de um balcão de panificadora foi capaz de construir um império supermercadista. Já o judeu da prestação, famoso por vender roupas de porta em porta com sua charrete puxada por um burrico, é ninguém mais do que Samuel Klein. Ele começou com uma carteira de 200 clientes, comprada de um amigo, e hoje reúne 6 milhões de consumidores como clientela. Olavo Setúbal vem de uma família tradicional de São Paulo e, após passar pela Politécnica da Universidade de São Paulo, iniciou sua atividade empreendedora numa pequena empresa, mas tanto talento não pôde ser contido. Terminou por liderar o grupo financeiro Itaú. Um outro escolhido se trata de um empreendedor social. Ele comanda o maior grupo privado do País e tem no currículo a autoria de diversos projetos sociais, incluindo a ação voluntariada no hospital Beneficência Portuguesa. Seu nome é Antônio Ermírio de Moraes.
Pinheiro Neto, Adib Jatene e Dorina Nowill? Qual a lição que cada um desses premiados passa para as gerações mais novas?
O primeiro representa o profissional liberal ligado ao centro de São Paulo. O talento do advogado que criou um dos mais respeitados escritórios de advocacia e referência para empresas estrangeiras no Brasil. O segundo vem enaltecer o empresário científico. Jatene nasceu no estado do Acre e em São Paulo foi responsável pelo desenvolvimento de tecnologia para o tratamento do coração. A cidade de São Paulo é hoje uma referência internacional em tecnologia médica cardíaca. Finalmente, Dorina Nowill é um exemplo de empreendedorismo no campo social. A menina perdeu a visão aos 23 anos, mas a mulher que já era lutou pelos deficientes visuais e criou a Fundação do Livro de Cego, entidade responsável pela inclusão social dos portadores de necessidades especiais.
Publicado no Diário do Comércio em 22 de janeiro de 2004