A falta de uma política de governo definida para a inserção das pequenas empresas na economia mundial é um fator que dificulta a integração desses negócios ao ecossistema das companhias multinacionais. Essa, pelo menos, é a opinião de especialistas que, a convite do Sebrae, discutiram em São Paulo, no fim de maio, estratégias para acelerar o encadeamento produtivo entre pequenos e grandes negócios.
Segundo Paulo Vicente Alves, professor da Fundação Dom Cabral, o desenvolvimento de fornecedores locais junto às grandes companhias depende de um projeto de desenvolvimento. “O mundo está mudando. A África vai competir com o Brasil no fornecimento de commodities e os Estados Unidos estão motivados em trazer a indústria de volta para seu país. Isso vai mudar o mundo e o Brasil precisa definir o que quer de suas empresas”, disse.
A opinião do professor é endossada por Tilman Altenburg, chefe do departamento de desenvolvimento econômico e social sustentável do Instituto Alemão de Desenvolvimento (DIE). Para ele, a participação ativa daqueles que chama de “agentes públicos” é fundamental para países que necessitem turbinar novas cadeias industriais. “Se você quer que o desenvolvimento de fornecedores funcione bem, você precisa criar algo que seja exatamente o que a indústria precisa. Mas, por outro lado, não penso que a indústria possa cuidar de tudo sozinha. Você precisa de um agente público, que convide e facilite esse tipo de ação.”
O especialista alemão usa como exemplo o processo de apropriação tecnológica colocado em curso na Malásia. O país asiático – em muito pouco tempo – estruturou uma rede de pequenos negócios para atender as demandas do segmento de eletroeletrônicos.
“Essa é uma lição que você pode aprender aqui (no Brasil)”, desta Altenburg. “O governo da Malásia percebeu que faltavam engenheiros treinados para produzir com qualidade, para competir internacionalmente. Então, convidaram as multinacionais, todos os grandes nomes, Intel, HP, para elas se juntarem a um centro de desenvolvimento de habilidades. E esse centro é basicamente desenvolvido pela indústria, mas com dinheiro dos agentes públicos da Malásia.”
Na opinião do governo brasileiro, entretanto, antes de pensar em definir uma estratégia de incentivo para o encadeamento produtivo, o Brasil deve dedicar-se a equacionar o ambiente regulatório para os micro e pequenos negócios.
“De nossa parte, (a preocupação) é preparar a simplificação tributária da empresa para ela não ter medo de crescer”, destaca o ministro-chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos. “O grande problema é que o enquadramento da pequena empresa pelo faturamento, que no (sistema tributário) Simples é de R$ 3,6 milhões, não alcança quem tenta fornecer para as grandes. No Brasil, o pequeno empreendedor entra na disputa com os mesmos custos do grande”, afirmou o ministro, que também participou do evento promovido pelo Sebrae em São Paulo.
Fonte: Estadão