SÃO PAULO – Mãos sujas de terra e cola colorida. Desenhos, cartazes e a espontaneidade típica de quem têm oito anos de idade. “A turminha do terceiro ano está aprendendo todos esses recursos para o empreendedorismo”, disse Cauê Madri Brum, de 8 anos.
Um colégio na Zona Sul da capital paulista tem 1200 alunos e adotou o empreendedorismo como disciplina, em 1990. A aula é prática e divertida. A turma participa de jogos, dinâmicas e pesquisas extraclasse.
“As vantagens são, basicamente, o desenvolvimento da consciência empreendedora,” afirmou a diretora Eliana Aun.
No Ensino Médio, a aula é optativa. Mas, do primeiro ao nono ano do ensino fundamental, é obrigatória. O tema proposto é adequado à faixa etária correspondente a cada ano letivo.
“A gente aprende a ter um espírito empreendedor porque se a gente quiser montar uma loja quando a gente crescer a gente tem que determinar os preços, o nome da loja, o local”, disse Maya Guedes, de 8 anos.
Para melhorar a qualidade do ensino, a escola procurou o Sebrae e ingressou no programa “Jovens empreendedores – primeiros passos”. A ferramenta desperta o interesse dos alunos sobre o mundo dos negócios. O público alvo são crianças e jovens de 7 a 14 anos do ensino público e privado. O Sebrae capacita os professores, para que eles repassem o conhecimento aos alunos.
“Claro que você não vai pegar um aluno de sete anos que nem sabe matemática direito e ensina-lo a fazer fluxo de caixa, mas desde cedo é possível, e não só possível, desejável, que esse aluno comece a desenvolver as habilidades empreendedoras,” afirmou Bruno Caetano, do Sebrae – São Paulo.
A turma do segundo ano do ensino fundamental cuida de uma empresa de temperos naturais. As crianças conhecem o produto, descobrem de onde ele vem e como é possível comercializa-lo.
“É uma empresa de verdade pra eles. Eles levam muito a sério esse trabalho. Eles fazem a pesquisa de mercado. Eles preparam com muito carinho, muita dedicação”, disse a professora Adriana Gracia.
Os alunos também aprendem a fazer o plano de negócios. Calcular os custos e formar os preços dos produtos. Depois eles pensam como divulgar a empresa da melhor forma.
“Eu to fazendo os cartazes da divulgação da loja. Tem que ter letra legível, local, data, horário”, disse Pedro Gomes, de 8 anos.
“As crianças têm uma aula de empreendedorismo por semana. Eles aplicam o que aprendem aqui na empresa fictícia. No fim do ano tem a inauguração do negócio numa feira aberta ao público. Os pais e amigos vão ser os clientes. É por isso que a empresa tem que ser bem gerenciada, porque um dos objetivos é o lucro”, disse Júlio Prestes, de São Paulo.
Os produtos são comercializados no evento e o lucro é dividido entre os alunos da sala.
O programa jovens empreendedores estimulou o ex- aluno, Matheus Navarro, a tomar uma das decisões mais importantes da carreira.
“As noções de empreendedorismo aprendidas na escola ajudaram o Matheus na vida adulta. Com um diploma universitário na mão, mas sem emprego fixo, ele decidiu montar um negócio próprio e apostar no que faz de melhor: dar aulas”, disse Júlio Prestes.
No ano passado, Matheus Navarro investiu R$ 60 mil em um centro de aulas particulares junto com o sócio Carlos de Oliveira. O local já conta com mais de 1300 alunos cadastrados.
As aulas de reforço escolar são em salas reservadas. Chegam a ser ministradas mil horas de atendimento individual por mês. Para atender a essa demanda, o centro tem 444 professores cadastrados. O local também oferece cursos pré- vestibulares. O faturamento da empresa gira em torno de R$ 50 mil por mês.
“É um trabalho árduo, mas é recompensador. Vale a pena”, disse Matheus Navarro. O que na infância parece uma brincadeira pode fazer a diferença na vida profissional
“Esse programa que nasceu em São Paulo. No Sebrae São Paulo, no ano passado foi nacionalizado e, portanto, todas as unidades do Sebrae em todo o Brasil hoje já tem condição de levar esse programa pra dentro das escolas brasileiras”, disse Bruno Caetano.
A atividade desperta o espírito empreendedor. As crianças Mariana e Luiza, por exemplo, tiveram a ideia de fazer biscoitos para vender, mas o negócio enfrentou alguns problemas.
“Aí eu peguei o açúcar, aí a gente colocou um monte de coisa. Aí a gente esqueceu de colocar o fermento. Aí, quando colocou no forno, o biscoito ficou duro”, disse Luiza Costa, de 8 anos.
Fonte: G1