Depois de comparar em tom de brincadeira o seu gabinete a uma “sala de espera”, o ministro e vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD), diz que recorrerá à exoneração temporária do ministério para assumir o governo de São Paulo em caso de na ausência do governador Geraldo Alckmin.
Afif tomou posse, na quinta-feira (9), ministro da Micro e Pequena Empresa. Ele reafirmou em entrevista exclusiva ao G1 que não pretender abrir mão do cargo atual para a nova função.
“A minha necessidade de estar aqui é para substituir o governador em suas ausências, especialmente as de viagem, que são as corriqueiras. Essas [ausências] deverão ser tratadas dentro do espírito da lei. E dentro do espírito da lei, para que eu possa assumir essa função, eu tenho que me exonerar do cargo onde estou. Isso se faz. É a exoneração temporária. Você se exonera, cumpre seu papel e retorna”, disse, na manhã desta sexta-feira (10).
O vice-governador recebeu o G1 em seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. Ao comentar a nova função e o grande volume de atividades com que está envolvido desde a posse, o então ministro se mostrou animado.
“O vice-governador é um stand by. Você está aqui em uma sala de espera, aqui não é o poder. É uma sala de espera. Você espera a ausência do governador para assumir. Essa é a função do vice, por isso ele pode assumir outra função. Não há proibição. Há proibição para o governador”, afirma.
Membro do PSD e parte importante do governo estadual do PSDB, Afif negou qualquer conflito de interesses quando foi questionado sobre a atuação simultânea em governos que historicamente se opõem.
“Eu acho muito engraçado quando falam ‘o senhor está em um governo de oposição’. O governo não é oposição, é governo. Então é o governo de São Paulo e o governo federal. As ações para micro e pequenas empresas são ações de governos federal, estadual e municipal, portanto há uma total integração das ações para poder beneficiar o pequeno. Eu não vejo nenhum conflito de interesses entre os encargos que eu assumo”, defende.
Apesar da normalidade com que trata do cargo no governo de Dilma Rousseff, Afif diz que usa o bom relacionamento pessoal com Alckmin para amenizar divergências políticas com o governador.
“Eu já tive um período muito mais crítico no meu relacionamento com ele [Geraldo Alckmin]. Foi quando ele me demitiu da Secretaria do Desenvolvimento. Eu procurei sempre manter relação pessoal com ele. Ele mesmo um dia disse: ‘nesses conflitos, as maiores vítimas somos nós dois’. E eu falei ‘então vamos saber administrar’, e sob o ponto de vista pessoal não há nenhum tipo de rusgas, de forma nenhuma. Neste instante, a gente usa o relacionamento pessoal para poder amenizar os conflitos políticos”, disse.
Questionado sobre quais são os conflitos políticos entre ele e o governador, Afif respondeu apenas que “PT e PSDB estão em guerra permanente. Eu sou do PSD, que é da paz”.
Foco na ‘desburocratização’
Como ministro, Afif promete investir na “desburocratização” para incentivar o registro de micro e pequenas empresas. Nesse processo, São Paulo deverá ter prioridade.
“São Paulo vai ser a minha área prioritária quanto à abertura e ao fechamento de empresas porque a velocidade de abertura põe o Brasil em uma posição vergonhosa entre outros países, em termos de ambiente de negócio hostil aos empreendedores. Portanto, nós temos que desenvolver a primeira ação aqui [em São Paulo] para melhorar as nossas condições no ranking.”
O ministro e vice-governador disse já ter definido três nomes técnicos para compor a sua equipe, mas não adiantou quem serão os indicados. Já a definição dos demais cargos deve ocorrer a partir da próxima semana, após conversas com outros ministros em Brasília. “É muito complicado você destacar pessoas de outros estados para o governo central”, disse. “Tem que ter o mínimo de gente de fora e o máximo de pessoas qualificadas, e existem muitas, em Brasília”. A estrutura, promete Afif, será “bem enxuta, porque o Ministério tem que ser ágil. Não pode ser um ministério pesado porque ele é um ministério de circulação, de articulação”.
Questionado sobre a recente criação de novos ministérios pela Presidência e a possível oneração do governo, ele concorda que é preciso mais integração.
“Nós todos concordamos que é muita coisa e que nós temos que passar por um processo de buscar uma integração maior de áreas para facilitar o processo de administração. Mas, no caso do Ministério da Micro e da Pequena Empresa, essa é uma lacuna que existia exatamente porque ele é tão importante estrategicamente do ponto de vista econômico e social”, defendeu. “Tem que ter uma área que lembre todo dia que existe uma lei diferenciada para o pequeno. E esse guardião é o ministro.”
O novo escritório de Afif em Brasília ficará no prédio da Secretaria de Assuntos Estratégicos, que estaria se deslocando do antigo Ministério da Defesa. A esposa deve acompanhá-lo para a capital federal, mas os quatro filhos, todos casados, permanecem em São Paulo com os dez netos do vice-governador. “Eu, quando possível, venho para minha base, em São Paulo, e o farei semanalmente, até porque não fico longe dos meus netos”, diz.
Apoio a Dilma na eleição de 2014
Agora aliado de Dilma, como ele mesmo se descreve, Afif afirma que irá apoiar a reeleição da presidente em 2014, assim como a tendência de seu partido, o PSD. “Há uma forte tendência do PSD, por sua ampla maioria da base, apoiar a reeleição da presidente Dilma. Porém, há uma diretriz no partido e serão respeitados os acordos estaduais quanto à composição de disputa de poder nos estados.”
Em São Paulo, de acordo com o ministro, a “tendência é ter um candidato próprio”. Segundo ele, esse candidato seria o Kassab. Ainda de acordo com o ministro, a decisão de ter um candidato próprio se deve a outra diretriz do partido, que prioriza a opção de ser “cabeça de chapa onde tivermos efetiva possibilidade, ou composições que não prejudiquem a formação da bancada”.
Fonte: G1