Recentemente, a prestigiada revista inglesa “The Economist” publicou na capa a imagem de um buraco negro, em alusão à crise que pegou muitos países emergentes, inclusive o Brasil, com a seguinte frase bem no olho da tormenta: “Be afraid”. Tenha medo, literalmente. Devemos continuar temerosos ou já podemos acreditar que há uma luz no fim do túnel?
Não se pode dizer que o Brasil resistiu ao turbilhão incólume, sem ao menos sentir um friozinho na barriga. Até porque, a crise chegou por aqui em dose dupla, economia e política num abraço de afogados. Justiça se faça: a capacidade de reação vem surpreendendo muita gente.
Sinais de recuperação surgem no horizonte, respaldados por dados que tornam possível acreditar na retomada do crescimento. Exemplo: de janeiro a agosto, 327 mil vagas formais foram criadas por pequenos empreendedores, como informa o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
Em bom português: os donos dos pequenos negócios estão reagindo, confirmando a minha aposta neste segmento. Não precisamos continuar tão temerosos. Do not be afraid. Mas seu protagonismo exige mais que boas intenções dos agentes públicos. Agora, é necessário, vital até, desburocratizar e ampliar o crédito. Se os primeiros sinais de recuperação aparecem nas vagas formais de trabalho geradas por pequenos negócios, é para estes que o governo deve direcionar suas melhores iniciativas e ações.Desburocratizar procedimentos de forma geral, para minar essa doença que se espalhou como praga na administração pública. E desobstruir os canais para que o crédito — aquele bom e bem orientado — se torne viável para o setor.
Nossas micro e pequenas empresas representam 98,5% do total de empreendedoresdo país, gerando mais da metade dos empregos e representando mais de 27% do PIB. Entretanto, pasme-se, mais de 80% dos donos de pequenos negócios não têm qualquer acesso a crédito.
Para corrigir essa injustiça, o Sebrae está trabalhando junto ao BNDES no sentido de estender suas linhas de crédito a empreendedores de perfil mais modesto. Além disso, mantém, há 22 anos, o Fundo de Aval, o Fampe, no qual o Sebrae entra como avalista na operação, em parceria com a instituição financeira. Em breve, o Portal do Empreendedor trará novidades sobre direitos e deveres, projetos e orientações para quem busca a formalização. São iniciativas assim que precisam ser multiplicadas e facilitadas para fortalecer cada vez mais o empreendedorismo no Brasil.
A propósito, este mês o Sebrae completa 45 anos, e no último dia 5 comemorou-se o Dia Nacional da Micro e Pequena Empresa. Mas a data não pode ficar no plano da mera efeméride. É costume dizer que o povo brasileiro é carente de heróis, reflexo da singular formação política do nosso país. Entretanto, ao olharmos o pequeno empreendedor no seu dia a dia, tendo que superar obstáculos em meio a condições tão adversas, é difícil não associar a sua figura a de um herói batalhador. Anônimo, mas herói.
Fica a sugestão.
Guilherme Aff Domingos é presidente nacional do Sebrae
Fonte: Artigo Jornal O Globo