Apesar das micro e pequenas empresas quase não serem lembradas nas políticas econômicas, são elas que estão dando resposta à crise, com geração de emprego e renda no Brasil. Mais que isso. O empreendedorismo é visto pelos próprios brasileiros como a melhor porta de entrada para sua independência financeira e sua realização pessoal.
No mês de abril, os pequenos negócios foram responsáveis pela criação de 92% das vagas de trabalho. Do total de 59.800 novos empregos, 54.900 foram oriundos desse segmento de empresas. O número é mais de 20 vezes superior ao das médias e grandes, que incorporaram aos seus quadros de funcionários 2.594 pessoas, no mês passado.
Os dados são do levantamento feito mensalmente pelo Sebrae com base nos números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados pelo Ministério do Trabalho. O Sebrae adota os critérios definidos na Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas para elaborar sua metodologia, considerando o porte das empresas, que tem por base o setor econômico e a faixa de empregados.
Ao analisar os primeiros 4 meses de 2017, constatamos que os pequenos negócios aumentaram seus quadros de funcionários em 104,6 mil, enquanto que as médias e grandes empresas apresentaram um saldo negativo de 129,4 mil. No mesmo período de 2016, as micro e pequenas empresas haviam registrado saldo negativo de 65.100 empregos, o que pode estar sinalizando uma mudança do quadro de geração de empregos no país, por parte desse segmento da economia. Em outras palavras, os pequenos negócios evitam o agravamento do desemprego no país.
No mês passado, os pequenos negócios apresentaram saldo positivo em todos os setores. Quem mais gerou vagas foram as empresas do setor Serviços, com a criação de 30.200 postos de trabalho. Em segundo lugar ficou a Agropecuária, com a geração de 7.000 novas vagas de emprego. Já os pequenos negócios que atuam no Comércio geraram 6.900 novas vagas de emprego, enquanto os da Indústria registraram criação de 4.300 empregos. O Comércio interrompeu uma sequência de saldos negativos que vinham sendo apresentados desde o início deste ano. Este pode ser um bom sinal de recuperação.
Em abril, no ranking por Estado, quem mais gerou vagas foi São Paulo, com 23.800 novos postos de trabalho, seguido por Minas Gerais, com 9.400 postos. Apenas 5 das 27 unidades da Federação registraram saldos negativos de empregos. Foram elas: Rio Grande do Sul, Alagoas, Maranhão, Rio Grande do Norte e Acre. Juntas elas apresentaram um saldo negativo de 1.500.
Se quisermos ter uma visão global da força dos pequenos negócios, não podemos olhar apenas para a geração de empregos. O Sebrae utiliza, na definição de suas políticas para micro e pequenas empresas, a GEM, Global Entrepreneurship Monitor, o principal estudo do mundo sobre empreendedorismo.
Desde que começamos a fazer a pesquisa GEM, há 17 anos, o empreendedorismo tem se mostrado uma ferramenta de desenvolvimento econômico, que traduz o desejo de muitos brasileiros. Atualmente, ter um negócio é o 4º sonho da nossa população, atrás de viajar pelo Brasil, comprar a casa própria ou ter um automóvel. Segundo a pesquisa, 36% dos brasileiros possuem um negócio ou realizaram alguma ação, no último ano, para ser dono da sua própria empresa.
Nessa edição de 2016, a GEM nos traz uma boa expectativa para o futuro: verificamos que o empreendedorismo por oportunidade voltou a crescer. 75% dos empreendedores nascentes –aqueles que estão envolvidos com a abertura de uma empresa– estão buscando esse caminho porque encontraram um nicho de atuação. Houve uma ligeira melhora na proporção de novos negócios por oportunidade. Foram 57,4% em 2016, contra 56,5%, em 2015.
Os dados positivos da GEM não param por aí. As mulheres já respondem por 51% dos empreendimentos iniciais. Essa informação mostra que o aumento da participação feminina no mercado de trabalho também tem se refletido no empreendedorismo. Isso é extremamente positivo para o Brasil, pois as mulheres tendem a investir mais em capacitação e têm mais acesso à informação, o que pode ajudar na construção de empresas mais sólidas e lucrativas.
Os mais velhos e os mais novos também estão procurando mais o empreendedorismo, como alternativa de ampliação da renda familiar. Se, em 2012, 7% dos empreendedores iniciais tinham mais de 55 anos, em 2016 esse número saltou para 10%. Já os brasileiros empreendedores entre 18 e 24 anos passaram de 18%, em 2012, para 20% no ano passado.
A GEM 2016 nos mostra que a recuperação da economia passa, necessariamente, pelo empreendedorismo. Mas é preciso que o governo crie mecanismos que facilitem e incentivem os pequenos negócios. A capacidade do brasileiro para empreender e a grande quantidade de oportunidades que o país ainda oferece não podem ser desperdiçados.