01/06/2015 – “Somos apaixonados por comida”. Este é o item zero do manifesto do Eataly, um grande shopping, com lojas e restaurantes inspirados na Itália, que acaba de abrir uma unidade em São Paulo. Com 29 lojas pelo mundo, a primeira experiência no Brasil foi viabilizada a partir de uma parceria entre o Eataly Itália, o grupo americano B&B Hospitality Group e os brasileiros do St Marche, com um investimento na casa dos 40 milhões de reais.
Entre produtos importados, como geleias da Sicília e chocolates do Piemonte, brilham nas prateleiras do mercado de 4,5 mil metros quadrados os pequenos produtores brasileiros. Como parte da experiência da marca, os “food hunters” buscaram fornecedores locais para compor o mix de sete mil produtos da loja.
Claudia Gelpi, “food hunter” do Grupo St Marche, viajou várias partes do país para descobrir maravilhas, como os doces da Mazé, de Carmópolis de Minas. “Muitos desses produtores exportam. Os gringos valorizavam mais do que a gente. Com a ajuda do Sebrae, do Slow Food e da Anna Paula Diniz, da Dodesigns, conseguimos dicas de comunidades mais estruturadas com logística e inscrição para vender fora do estado”, diz.
Comida de verdade
A regra era clara: quanto mais de verdade o produto, melhor. “O produto de verdade tem menos conservantes, é mais natural. Você sabe de onde vem, tem uma história para contar. Ele representar o lugar onde é feito”, afirma. História é o que não falta para Maria José de Lima Freitas, a Mazé Lima. Aos 44 anos, Mazé conseguiu transformar uma cidade de 15 mil habitantes em ponto turístico, graças aos seus doces. “O primeiro tacho surgiu em 1999, a partir da necessidade de prover a família”, diz.
Mazé perdeu o emprego de faxineira em um banco e depois de mais de um ano buscando trabalho, resolveu vender doces. “Fiz um doce de amendoim e coloquei para vender. Ganhei R$ 20 e comecei meu negócio”. Depois de muitos altos e baixos, a empreendedora conseguiu oficializar o negócio em 2005 e construiu a primeira fábrica no ano seguinte.
A fama dos doces e das frutas cristalizadas foi além das fronteiras de Carmópolis de Minas, localizada a 110 quilômetros da capital Belo Horizonte, e a Mazé Doces está presente em quase 70 pontos de venda no Brasil, como o Eataly, produz mais de uma centena de toneladas ao ano e fatura R$ 1 milhão. “A Claudia veio nos visitar e levou os produtos porque fazem jus ao trabalho do Eataly, por ser regional”, afirma Mazé. “Estamos com expectativa muito boa de crescer de 10% a 15%, graças a esses grandes novos clientes, como Empório Santa Maria e Eataly.”
Crescer também é a meta da Cervejaria Urbana. Depois de um contato com o grupo St Marche, as bebidas da marca, como Gordelícia e TremBão, foram parar nas prateleiras do Eataly e de mais 18 unidades do St Marche. “O que toda empresa espera é crescer e esse vai ser um trampolim muito grande. O Eataly tem renome internacional e a visibilidade da cerveja para o público estrangeiro vai ser alta”, diz André Cancegliero, sócio e cervejeiro da Urbana.
Criada em São Paulo, a Urbana produz em media 20 mil litros por mês. “Aqui em São Paulo estamos em 250 pontos de venda. O faturamento de 2014 foi de R$ 1 milhão. Para 2015, pretendemos aumentar em 50%”, afirma Cancegliero. Para atender os novos grandes clientes, o empreendedor precisou reduzir a quantidade de rótulos sazonais.
Além da Urbana e da Mazé Doces, outras empresas, como Bazzar, Gravetero e Nova Aliança, também estão disponíveis na loja. Para comprar de pequenos negócios assim, o Eataly também precisou se adaptar. “Não dá para trabalhar com negociações comerciais como um mercado está acostumado. O dinheiro vai direto para o produtor, sem intermediário. Eles não podem receber em 60 dias, ele não tem força para essa negociação comercial. A empresa teve que abrir exceções. Se você pagar em 60 dias, eles quebram. A gente teve que mudar um pouco a visão e a negociação como investimento para poder ter esses tesouros”, diz Claudia.
Fonte: Pequenas Empresas Grandes Negócios (Portal)