Pelegos e pelegas

17 de março de 1989
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Algo de muito novo começa a acontecer. Definitivamente, o povo, a massa — composta por aqueles que tentam sobreviver, sejam trabalhadores, profissionais liberais, o setor não corrompido do funcionalismo, pequenos e médios empresários — está totalmente divorciada das cúpulas oficiais, sejam elas políticas ou representativas do peleguismo sindical, tanto patronal como de trabalhadores.

Fica provado que estes senhores fazem jogo de cena para o poder e para os meios de comunicação, mas na verdade estão muito distantes do pensamento da população.

O povo amadureceu demais, atingido por uma sucessão de mentiras institucionalizadas e pelo ilusionismo político. Ele não acredita mais nos falsos líderes.

Chegou a vez dos verdadeiros líderes, daqueles que enxergam o pensamento do povo, o desejo da maioria, e se põem à frente da massa para comandá-la. O verdadeiro líder não precisa utilizar o instrumento da coação nem o regime da força para traduzir o pensamento coletivo. Ele usa a palavra e as massas o seguem.

O verdadeiro líder não precisa esconder os ônibus e apelar para os piquetes. Essas atitudes de força se originam da estrutura fascista do sistema sindical, que, ao invés da ser reformulado para o surgimento das verdadeiras lideranças, consagrou o peleguismo na Constituição a partir de um acordo integral entre os pelegos empresariais e os pelegos trabalhistas. Adolf Hitler, no capítulo 10 do Mein Kempf (Minha Luta), de 1920, pregava: “A organização partidária procede de uma forma similar a que emprega o movimento sindical; opera de comum acordo com este último, que prepara as massas para a organização política e, em realidade, as obriga, quer queiram quer não, a participarem dele. A organização sindical é ainda, a fonte inesgotável de onde extrair o movimento político, o dinheiro necessário para alimentar seu formidável mecanismo. É o órgão de dominação necessário ao trabalho político e atua como instrumento para as grandes demonstrações deste caráter. E, por fim, perde totalmente seu caráter econômico ao servir à ideia política com sua arma principal: a negativa de trabalhar, expressada em forma de greve geral”.

Esse pensamento foi consagrado no texto constitucional, travestido de progressista pela dita esquerda (Diap) e de “adequado às necessidades das classes empresariais”, representadas pelas cúpulas das CNIs ou das Fiesps.

Além disso, enterraram o pluralismo sindical. E, embora tenham eliminado o controle do Estado sobre os sindicatos, não tiraram o controle dos sindicatos sobre suas bases, uma vez que mantiveram a contribuição sindical de forma compulsória.

Os que estão tentando buscar a origem dos recursos dos partidos representativos dos interesses dos operários no Exterior não percam tempo. Eles estão aqui mesmo. Como Hitler ensinou, o movimento sindical sustenta, com esse imposto, o movimento político dos seus profissionais grevistas, isto do lado dos trabalhadores. Do lado empresarial, esse dinheiro do imposto sindical sustenta as mordomias, os prédios de luxo, o empreguismo e os jatinhos alugados que transportam seus dirigentes pelo território nacional.

Eles não precisam ter compromisso com suas bases. Elas pagam para sustentá-los, conforme garante a Constituição.

Mas a verdade apareceu!

O povo, tanto a massa empresarial como os trabalhadores, não segue mais as cúpulas. Quer buscar novos líderes e novos caminhos. Dia 15 de março foi o dia da grande mudança!

O povo não seguirá os falsos profetas. Não adianta sentarem à mesa do pacto social como governo, pois nenhuma das partes tem legitimidade.

Não adianta a passionária de Uiraúna esconder os ônibus. Não adianta alguns setores das comunicações manipularem a opinião pública.

Não adianta, como dizia Ruy Barbosa, “os estadistas da impostura, o presidente de palha, os ministros da tarracha, as ratazanas do erário” se contorcerem.

O Brasil mudou. Oitenta milhões de eleitores vêm aí, não para seguirem os impostores, mas para avançarem no caminho dos novos tempos. Pelegos e pelegas de todo o Brasil, o povo pede passagem!

 

Publicado em O Estado de S.Paulo, no dia 17/03/89

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