O sonho revivido de JK

Janeiro de 1989
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O empresário e deputado Guilherme Afif Domingos (PL-SP), 45 anos, nasceu em São Paulo, formou-se em administração de empresas, é casado há 22 anos com d. Silvia e tem 4 filhos — Silvia Helena, Guilherme, Arnaldo e Maria Cecília. Católico, não fuma, não bebe e não joga, mas adora andar de bicicleta. Foi secretário da Agricultura no governo de Paulo Maluf; presidente, por duas vezes, da Associação Comercial de São Paulo; deputado federal. Nesta entrevista exclusiva a Rodolfo Konder, de Afinal, ele fala de sua plataforma política, baseada nas ideias do falecido presidente Juscelino Kubitscheck — o JK — e de sua disposição para chegar à Presidência da República. Lembra que a disputa não será “entre direita e esquerda, mas entre antigo e moderno”. Diz que Leonel Brizola e Mário Covas são antigos, que o projeto de Lula e do PT “tem mais a ver com Cuba e Nicarágua do que com o Brasil”, recusa-se até a qualificar o ex-prefeito Jânio Quadros e adverte que ganhará a eleição “quem tiver mais ética e mensagem, e não quem tiver mais estrutura partidária”. Revela-se, finalmente, otimista em relação ao futuro do Brasil. Seu slogan: desenvolvimento e liberdade.

— Afinal — Deputado, o Sr. é candidato à Presidência pelo PL. Que proposta exatamente o Sr. tem para arrumar a situação brasileira? Qual é a proposta do seu partido?

Afif Domingos — Antes de tudo, precisamos localizar a crise e a crise não está na Nação, a crise está no Estado brasileiro. A crise é de um modelo de estado, que foi moderno um dia, em 1930, que foi a grande reformado Estado brasileiro. Mas foi exatamente pela falta de adaptação à nova realidade que o nosso modelo de estado entrou em crise. Hoje, estamos vendo uma revisão profunda dos conceitos da década de 30 em todo o mundo, Portugal de Salazar, Espanha de Franco, Alemanha de Hitler, Itália de Mussolini e até a União Soviética de Stalin, e o Brasil de Getúlio? Parece que eles querem fazer dos anos 30 o modelo da atualidade brasileira, e isso já passou, e as consequências desta crise do Estado estamos sentindo no bolso da sociedade. A sociedade brasileira é forte, a Nação brasileira é forte, ela progride, só que hoje está progredindo distante do Estado, por debaixo do pano, tanto é que o PIB cresceu, oficialmente, zero e o consumo de energia aumentou em 9% e ninguém explica isso.

— E a saída, do ponto de vista do PL, seria tornar a presença do Estado cada vez menor, quer dizer, afastá-lo da gerência da economia brasileira, por exemplo?

Não. A nossa proposta básica e uma espécie de volta às origens, quer dizer, o Estado se desviou de sua função básica. Não somos adeptos de nenhum Estado, pelo contrário, somos a favor de um Estado forte, mas um Estado forte é aquele que é controlado pela sociedade, e não aquele que é controlador da sociedade. Em segundo, um Estado que seja investidor na infraestrutura básica para o desenvolvimento econômico e social, um Estado que seja o maior investidor na promoção humana, que este é o seu papel, porque a igualdade de oportunidade, só se consegue na hora em que o ser humano, como objeto de todas as coisas, tenha igualdade de condição para competir, então é o investimento na educação, na saúde, e, acima disso tudo, o Estado é o garantidor dos direitos individuais e coletivos, através da justiça e através da segurança. E eu pergunto: o Estado brasileiro de hoje é um primor em matéria de educação? É um primor em matéria de saúde? É um primor em matéria de justiça? Ou em matéria de segurança? Veja que estas funções foram totalmente relegadas em favor de um Estado empresarial, de uma estrutura corrupta, de uma estrutura de um Estado que gasta o esforço da Nação, a pretexto de cuidar dela.

— Esse esforço, agora, do governo, no sentido de se modernizar, essa reforma que está em discussão hoje, o Sr. tem alguma esperança de que ela funcione?

Não. Não vai dar certo, porque o Estado, hoje, é uma estrutura dominada por um tipo de elite, que demonstrou, com o tempo, que vive no Estado, que vive do Estado. Como é que você espera de um grupo que ele corte o galho sobre o qual construiu seu ninho e o ninho de sua família? Isso é impossível. Somente será possível na hora em que a Nação participar do processo, só na hora em que o governante venha com respaldo da Nação que ficou fora do processo por quase 29 anos.

— O novo Cruzado já nasce com cara de velho Cruzado?

Olha, tudo o que vier, vem num clima de falsificação, num clima de mistificação, num clima de falsidade. O Cruzado para mim não existe. Aliás, ele só existe como moeda para pagar salário, para o resto, para os encargos, existe para mim, uma nova moeda, chamada OTN.

— Se o Sr. chegar à Presidência, com que forças basicamente pretende governar o País?

Basicamente você tem que partir do apoio popular que tem, o povo é a força. Em segundo lugar, você tem que trabalhar com a classe política, o caminho é através do contato com a classe política, só que a classe política terá uma mudança muito profunda de comportamento, a partir das eleições de 89, pois até então, o que valeu, foi um sistema proporcional, inversamente proporcional ao tamanho do povo, de eleitores, haja visto que a nossa representação parlamentar é inversamente proporcional ao volume de eleitores existentes. Então, é a primeira eleição majoritária, ela muda o eixo político, o povo volta ao poder, e a classe política vai ter que acompanhar a nova tendência de um povo que não está para brinquedo.

— O Sr. acha que as coisas deveriam avançar na direção do parlamentarismo?

Parlamentarismo, agora, é golpe. O parlamentarismo, no futuro, é algo a ser estudado, como a última coisa a ser feita para completar o edifício democrático. No nosso edifício democrático, o parlamentarismo seria o telhado, e nós estamos ainda na construção dos alicerces.

 E se o Sr. se eleger?

Poderia trabalhar nesta direção, desde que, na reforma Constitucional de 1993, introduzamos o voto distrital, e que o sistema proporcional seja realmente proporcional ao número de eleitores existentes. Logicamente, essa tendência de concentração brutal de renda e população nas regiões mais ricas tem que ser revertida, e esta será a meta principal do nosso projeto. E a hora e vez do desenvolvimento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, porque não dá mais para concentrar desenvolvimento no Centro-Sul. Os bolsões de pobreza, hoje, no Brasil, estão localizados exatamente nas zonas de progresso.

— Entre as suas experiências, quais as que o Sr. destacaria como bagagem mais importante para sua campanha eleitoral?

Olha, todas as experiências são importantes, mas a que mais me abriu os horizontes, foi o tempo em que assumi a pasta da Agricultura, em São Paulo, e foi através dos programas de irrigação no oeste do Estado de São Paulo, que eu pude sentir o que seria e o que é o potencial do nosso País. Enfrentei um desafio, que era a produção de feijão; na época, inclusive, o governo Figueiredo enfrentava o problema do feijão tropeiro, no Rio de Janeiro, porque precisava botar a tropa na rua para enfrentar a fila do feijão; e aquele desafio eu como secretário, eu o assumi. E foi com os técnicos de campo e não com os técnicos de gabinete, não foi com os pesquisadores PHD formados na Alemanha, mas com os caboclos de Santa Fé do Sul que eu descobri como roubavam água da represa da CESP para fazer o cultivo do feijão irrigado, mostrando como poderíamos tirar até três safras por ano, de arroz, feijão, milho, em rotação de culturas, mostrando que o Brasil tem um potencial muito maior do que qualquer outro País, porque aqui a agricultura se faz 365 dias por ano. E foi assim que, nunca mais, no nosso país, houve o problema do feijão, principalmente no Estado de São Paulo, porque foi criada uma terceira safra de feijão, porque os projetos de irrigação aí estão. Imagine isto transportado para a região dos vales úmidos do Nordeste, imagine isto transportado para a região Centro-Oeste, onde o gaúcho, o catarinense, o paranaense, o paulista, o mineiro, apesar do governo que temos, estão construindo a nova fronteira do desenvolvimento brasileiro. Quem vai para Barreiras, na Bahia, quem vai para Petrolina, quem vai para o Vale do Aço, no Rio Grande do Norte, quem percorre a região do Centro-Oeste, ocupada hoje pelos gaúchos juntamente com os irmãos mato-grossenses, está vendo que o caminho que J. K. havia traçado para o Brasil estava absolutamente certo, e que a renúncia maldita e o regime que se seguiu desviaram o País do seu caminho.

— E sua experiência na Constituinte, também é relevante para a sua candidatura à Presidência?

Ela é relevante em termos de contato politico. Não pelo resultado produzido, que é bastante sofrível, alias sofre críticas de todos nós, se não sofresse críticas, não precisava uma reforma Constitucional em 1993, aprovado por todos. Mas acho que a Constituinte é o grande momento do diálogo político, mostrando que a classe politica está preparada para a travessia, mesmo os mais radicais, os mais extremos, dentro do Parlamento, cedem a posições de negociação; aprendi com meu amigo, Dr. Ulysses Guimarães, algo que é muito importante, e essa é a história dos Parlamentos em todo o mundo: nos Parlamentos nunca há ruptura, sempre existe uma ponte, mesmo nos momentos mais graves, para promover a travessia e manter as instituições democráticas de um país. Esta foi a principal lição que aprendi: e dentro de um Executivo, saber respeitar um Legislativo.

— O Sr. falou há pouco, “apesar do governo”, então eu lhe pergunto: de zero a dez, que nota o Sr. daria para o governo Sarney?

Não quero ser injusto com o governo Sarney, quero dar nota zero ao sistema; é que o governo Sarney, ao invés de vir para mudar, veio para manter e até aperfeiçoar alguns defeitos do próprio sistema. O sistema, hoje, é obsoleto, ultrapassado, e reprovado. O Estado brasileiro, hoje, é uma sucata.

— E o governo do Estado de São Paulo, que nota o Sr. daria para ele?

Olha, é difícil você dar nota a um governo, no momento em que a Nação inteira, o Estado maior brasileiro é um Estado que transfere seus efeitos para todas as áreas. Eu, sinceramente, teria até dificuldade em poder dar uma nota a um governo de Estado, que enfrenta as dificuldades que enfrentam todos os Estados e todos os municípios, porque o problema não está aqui, o problema está mais em cima. Mesmo assim, eu vejo que o governo de São Paulo não adotou as medidas necessárias para o enxugamento do Estado, ou as medidas necessárias para a eficiência do Estado. Agora é que ele começa a falar, em extinguir diretorias, e eu pergunto: depois de dois anos de governo? Então se esperou uma eleição? Essas diretorias estavam a serviço de uma articulação política? Por isso, não acredito na estrutura que aí está. O mau exemplo vem de cima e contamina todo o organismo político. Veja as prefeituras aí, o que os novos prefeitos estão enfrentando, em termos de prefeituras, verdadeiramente arrasadas pela má ação de administradores.

— Em relação à Prefeitura de São Paulo, o prefeito Jânio Quadros também saiu deixando uma prefeitura em situação muito difícil para a nova prefeita, Luiza Erundina. Apesar disso, há astrólogos que falam que o Sr. vai chegar à Presidência da República como vice, na chapa do ex-prefeito Jânio Quadros, que, segundo essas previsões, não completaria o seu segundo mandato, e aí o Sr. ascenderia à presidência. Há alguma viabilidade nessa previsão?

Não. De forma nenhuma. Inclusive por um fato muito simples: nós já traçamos uma diretriz de linha de ação política que me acompanha desde o início, quando escolhi este caminho. E eu sempre prefiro ser cabeça de sardinha, a rabo de baleia, e neste caso, não aceitaria uma garupa como esta. Afinal de contas, esse tipo de garupa é para outro tipo de político, os gigolôs da popularidade de outrem, isto estamos vendo, inclusive buscando gente com popularidade para assumir comando e chapa, para que eles possam montar na garupa. Chegou a hora de o político assumir a sua própria popularidade. Esta é a minha posição.

— O que distingue basicamente a sua candidatura das demais, quer dizer, quais os traços que diferenciam o PL, por exemplo, do PMDB, do PSDB, do PDS?

Acho que, antes de tudo, o contraponto nosso é o PT, que é a estrutura partidária que eu respeito. Tanto eu respeito, que o PT chegou, está começando a chegar ao poder, fruto de um plano de coerência e de um plano traçado há dez anos, sem perder a identidade. Então o PT, hoje, tem uma proposta ética, absolutamente correta, proposta doutrinária totalmente divergente da nossa, afinal de contas o PT ainda está num tipo de proposta adaptada ao final do século passado.

— A década de 90 vai ser a década do resgate da ética?

Sim. Não tenho a menor dúvida, inclusive erram aqueles que dizem que a última eleição foi uma vitória da esquerda, um avanço da esquerda. Não. Foi um avanço da ética, e quem conseguiu demonstrar que tinha um projeto ético, nos grandes centros, foi o PT. Onde ele não está presente, outros projetos éticos venceram; por exemplo, em Pernambuco, quando vejo em Recife a vitória de Joaquim Francisco, foi a vitória da ética, porque os gurus da esquerda, o Arraes, o Jarbas Vasconcellos, foram derrotados naquela eleição, porque o Joaquim Francisco tinha uma imagem ética, desde o seu desligamento do governo, inclusive pediu que ninguém subisse no palanque com ele. Deixa que eu vá sozinho. Então venceu uma eleição em função da sua postura ética. Em Minas Gerais não foi uma vitória dos tucanos como partido, foi uma aliança ética, contra um governo aético do Nilton Cardoso, quer dizer, a vitória do Pimenta da Veiga, tanto é que o PL apoiou o Pimenta da Veiga, não sob o ponto de vista doutrinário e sim dentro de um projeto ético. Sem dúvida alguma, agora, a proposta ética é a proposta forte e eu quero lembrar é que o povo não perdoa o crédito dado, em 1986, na eleição de 88 foi lançado a débito, e o título foi para protesto. Neste caso, e isso precisa ficar bastante claro, comparando os outros partidos o povo vai começar a ver que é tudo farinha do mesmo saco, vai ser muito difícil para o PSDB provar que não é o PFL ou o PMDB, portanto, todas essas propostas se mascaram e criam no povo a imagem de que estão todos mancomunados, então vamos para os projetos novos. E quais são os projetos novos? Só existem dois na praça, que são o PT e o PL.

— O que o Sr. acha dos candidatos, definindo pelo menos os que já estão colocados aí, de uma maneira sucinta. Leonel Brizola?

Olha, o Brizola, sem dúvida, é da safra antiga, dos velhos políticos, e o mais competente opositor do governo. Mas dentro do quadro da luta que vai se estabelecer no Brasil, que não será uma luta entre direita e esquerda, nem de situação e oposição, mas será entre o novo e o velho, entre o moderno e o antigo, o Brizola é antigo.

— Mário Covas é antigo ou moderno?

O Covas, pessoalmente, tem uma postura ética que eu respeito, porém em termos doutrinários, o Covas parou na década de 50.

— E o Lula?

O Lula eticamente também é uma proposta, e como modernidade partidária também muito respeitado, porém, o PT vai ter enormes dificuldades para tentar adaptar a ortodoxia do socialismo a uma realidade, não do Brasil, mas do mundo como um todo; o Lula, nesse caso, está mais para Cuba e Nicarágua, e o Brasil não tem nada com Cuba e Nicarágua.

— E Jânio Quadros?

Acho que, dentro do eixo moderno e antigo, dispensa comentários.

— O PFL vai lançar candidato próprio? Quem seria ele?

O PFL tem divisões muito profundas internamente. Hoje existe o grupo governista, que é a maioria. Porque o PFL, eu quero lembrar, nasceu no governo, o PFL não nasceu na Nação, então eles têm uma enorme dificuldade em fazer politica fora da estrutura do poder, e dentro da estrutura do poder, sem dúvida o Antonio Carlos Magalhães tem uma grande chance, em função de estar com o domínio do poder. Tem um grupo dissidente, que é do Marco Maciel, mas…

 — Mas é mais moderno ou é mais antigo do que o outro?

Olha, pelo menos ele se afastou do governo, mas não conseguiu uma identidade própria e acabou se confundindo, em termos de imagem, com o próprio governo, e assimila hoje o desgaste do PFL. Acho que o PFL vai ter muitas dificuldades, em termos de consenso, sobre uma candidatura.

 — A candidatura Silvio Santos tem alguma viabilidade?

O Silvio Santos é candidato ao posto do Roberto Marinho, não do José Sarney, e o disputa com extrema habilidade.

— E o PMDB deve lançar quem?

É outro racha muito sério. Acho que o PMDB, pelo racha existente, vai acabar por inércia, beneficiando o próprio Dr. Ulysses, que é homem de maior força política dentro do partido, mas não posso dizer o mesmo da força eleitoral dele.

— E ele, como político, é um quadro moderno ou já está ultrapassado?

O estilo está ultrapassado, porém o Dr. Ulysses é muito importante na postura política do Parlamento, no Brasil; dentro do jogo do Parlamento, o Dr. Ulysses é insubstituível, é uma enciclopédia.

— O Sr. acha que corremos algum risco de retrocesso institucional, ou o Sr. acha que esse processo de transição vai prosseguir e vai chegar aos seus objetivos?

Não há risco de retrocesso, porque as Forças Armadas, hoje, como um todo, nunca estiveram tão conscientes do seu papel constitucional; aliás, foi uma luta na Constituição para que esse papel fosse mantido, e eu duvido que hoje as lideranças militares queiram se desviar do caminho. Esqueçam aqueles que cultivam os golpes, não há chances de golpes, o jogo agora é com o povo e quem tiver o rabo preso, dança.

 

— Como o Sr. vê a sua candidatura? Quais são as chances reais do Sr. chegar à presidência da República, como o Sr. vai trabalhar essa campanha?

Acho que, depois das eleições de 88, não há força predominante na política brasileira.

— Foi a vitória do pluralismo?

Foi. Então, de repente, todas as forças zeraram, quer dizer, nós estamos aqui começando um processo absolutamente novo. Portanto, querer descartar, a priori, a candidatura A, B,C, porque tem falta de estrutura, nada nos diz que as estruturas se manterão fiéis a uma candidatura que não venha ao encontro do desejo do povo. Esta é uma eleição básica de comunicação, e nesta eleição sendo de comunicação vai ter vantagem aquele que em primeiro lugar tiver uma proposta ética e não tiver compromisso com as estruturas existentes de poder. Em segundo lugar, as forças que se unirem em torno desse candidato não serão as forças políticas formais, serão os segmentos da sociedade que estão querendo agarrar uma bandeira nova. Portanto, as chances dos candidatos dependem muito mais da força da mensagem do candidato, do que da força de uma máquina partidária. Em linguagem de marketing, podemos até dizer que essa eleição é muito mais de produto do que de força de empresa, aliás, dizem que quem faz a empresa é o produto, e não vice-versa, e o momento é um momento em que é a hora do esforço adicional, é a hora de se assumir uma postura de liderança, porque quem assumir uma posição de liderança agora vai ganhar a hegemonia, ou vai ter uma liderança política no Brasil, no mínimo para os próximos dez anos, porque não tem ninguém colocado, então vale a pena o grande esforço para buscar o primeiro lugar na política, neste momento, porque ninguém tem hegemonia.

— Vai ser uma eleição em que a televisão vai ter um papel fundamental?

Eu digo a mensagem, não a televisão, porque já se provou que não basta televisão. Televisão sem mensagem é um desastre. Veja São Paulo, veja Rio de Janeiro, onde a aliança PMDB-PFL aconteceu, tendo um latifúndio de tempo de televisão, e agravou a situação por falta de mensagem.

— Deputado, como o Sr. está vendo o futuro deste país, quais são as suas expectativas, o Sr. está otimista, apesar da crise, ou o Sr. Vê com ceticismo a possibilidade de a gente encontrar um caminho para sair desse buraco?

Eu disse no início da entrevista que a crise não é da Nação, a crise está no Estado. O problema nosso é corrigirmos esta estrutura do Estado, e só poderá corrigir quem chegar lá com o apoio da Nação. Em segundo lugar, o Brasil atravessa, neste momento, talvez um dos momentos mais propícios da nossa história para um grande salto, as mudanças que estão ocorrendo no mundo são de tal ordem e de tal profundidade, que o mundo inteiro olha o Brasil como uma grande Nação do Hemisfério Sul, é o país que tem o maior potencial de recursos a serem explorados e que precisam ser bem explorados, porque, sabendo usar, não vai faltar. O Brasil tem chances, hoje, de saltar de 70 milhões de toneladas de grãos para 200 milhões de toneladas de grãos no início do próximo século. Para isso, nós vamos ter que fazer parceria, principalmente com o Oriente, porque o eixo econômico mundial, hoje, foi para o Oriente, e o Japão é um país, os países do Oriente são países, os “tigres asiáticos”, que têm capital sobrando, tecnologia. E o que lhes falta são os recursos naturais. O que o Brasil tem de sobra? Exatamente recursos naturais. E o que nos falta? É justamente capital e tecnologia. Porque se enganam aqueles que dizem que o Brasil tem riquezas. O Brasil tem recursos. Os recursos se transformam em riquezas com investimentos e tecnologia, portanto o casamento da internacionalização das economias, é a regra para o século 21, veja que o conceito que valia para a década de 50 não vale para o próximo século, a própria União Soviética está falando, temos que viver internacionalmente, o mundo hoje tem que ter uma convivência econômica integrada. Resultado, o Brasil tem vantagens comparativas sobre países do Hemisfério Norte, exatamente nos campos da agricultura e da mineração, e está provado pela minha teoria da Rua 25 de Março, onde militei por muito tempo, que quando a agricultura vai bem, o comércio limpa as prateleiras e quando o comércio limpa as prateleiras, não existe capacidade ociosa na indústria e nem desemprego. A grande força de mercado interno é a agricultura, e o Brasil hoje teve uma capotagem econômica, porque esqueceu a agricultura por todo esse tempo, então o que nós tivemos foi um inchaço nos grandes centros por falta de desenvolvimento do Brasil, como um todo. E a hora e a vez do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, agricultura e mineração. Este caminho já está sendo seguido naturalmente pela Nação, os do Sul já estão subindo para essas regiões, pela vantagem comparativa que elas oferecem. Resultado: na hora em que o Nordeste e o Centro-Oeste tiverem uma agricultura sólida, o processo de industrialização integrado com a agroindústria é uma consequência natural, e nós vamos explodir por este Brasil. Londrinas, Maringás, Uberabas, Uberlândias, Barreiras, Petrolinas, e eu pergunto: tem crise em Uberaba? Tem crise em Uberlândia? Tem crise em Bebedouro? Aliás, essas regiões são hoje tema de novela, mostrando a prosperidade e a riqueza. Baseadas em quê? Na riqueza e na vantagem comparativa que o nosso País produz. E o Estado, voltando às suas origens, para investir no povo o dinheiro dos tributos, tem que estar a serviço de um programa de educação, de um programa de saúde, no investimento na estruturada justiça, na estrutura da segurança, e na infraestrutura da promoção humana, social e econômica. E o investimento do Estado na infraestrutura, eu acho que agora devemos nos preocupar mais em transportar gente na periferia, do que aço, na Ferrovia do Aço; temos que investir no transporte popular, no transporte do povo, essa é a função do Estado, e ele que deixe o resto, que a livre iniciativa integrada com capitais externos sabe o que fazer.

Entrevista publicada na revista AFINAL, Janeiro de 1989

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