“Hipótese de renúncia está descartada”, diz Afif

9 de maio de 2013
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O ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, que toma posse hoje, classificou em entrevista ao Estado de “retórica política” os ataques feitos no passado à presidente Dilma Rousseff e ao PT. Afif, que tem histórica ligação com o liberalismo, diz que “ideologia não está na cabeça do eleitor”. Ele se define como ministro da cota pessoal da presidente e afirmou que, apesar de seu partido, o PSD, ter uma tendência de apoio a Dilma, a aliança não se estenderia a São Paulo, onde teria candidatura própria com o ex-prefeito Gilberto Kassab. Ele classificou ainda como “política” a polêmica sobre o acúmulo do cargo de ministro e vice-governador do Estado. Afirmou que aceitou o convite por ser este o tema de sua vida.

O PSD disse que não participaria do governo, mas o senhor foi convidado e aceitou. Qual o motivo?

O convite aconteceu e foi aceito por afinidade temática. O partido tirou uma posição de não participar, mas deixou claro que a presidente Dilma ficaria à vontade para convidar e isso ocorreu porque esse tema é a minha vida e é prioridade do governo. Ela não criou esse ministério para o PSD, isso era uma plataforma do governo antes de o partido existir. Isso ficou morno por um tempo e esquentou agora fruto de uma afinidade pessoal. Meu nome é uma escolha pessoal da presidente.

Essa afinidade é recente, o senhor já fez muitas críticas ao PT…

As críticas foram feitas na conjuntura de campanha política. Todo mundo sabe que eu apoiei o José Serra (PSDB) na última eleição. Não teve nada de crítica pessoal, foi tudo na retórica de campanha.

Chegou a dizer que Dilma não tinha biografia para o cargo, se arrepende? Isso foi também na retórica de campanha? Não há uma mudança de ideologia?

Esse negócio de ideologia não está na cabeça do eleitor. Está na imprensa e em setores da elite. Estamos em um ambiente novo. Minha geração, muitas vezes, não se dá conta disso. Hoje a sociedade é pragmática. Essa questão de direita e esquerda é de um momento pós-1964, do século passado. Hoje o proletário sonha em ser burguês. Isso é algo que me une ao Lula. Em 2003 eu entreguei para ele o projeto do Microempreendedor Individual (MEI) e trabalhamos juntos porque o Lula se entusiasmou com a ideia. Os empregados querem hoje ter seu próprio negócio e ele e a presidente Dilma acreditam nesse caminho também.

Qual a participação do Kassab nessas conversas com a presidente sobre o ministério?

Sempre estive ao lado do Kassab em conversas sobre esse meu tema e sempre foi colocada a tendência do partido de se aliar a ela na próxima eleição, mas que institucionalmente não ocuparia cargos agora.

Kassab já disse que deseja ser candidato em São Paulo. O partido não vai se aliar ao PT?

Em um partido com o tamanho do PSD faz sentido ter candidatura própria onde puder. Para continuar crescendo tem de fortalecer a bancada na Câmara e, para isso, onde for viável teremos candidatos na cabeça de chapa. São Paulo está nesse contexto. A tendência é de negociação só em segundo turno. No primeiro turno todos jogam as fichas e pode ser um acordo deles (PT) conosco porque também podemos chegar ao segundo turno.

Como acumular o cargo de ministro e de vice de um governador de oposição?

Essa é uma polêmica política. Eu acabo de entregar minha carta de opção por receber os vencimentos do ministério e não do Estado de São Paulo, além de pedir exoneração do Conselho de Parceria Público Privado. Eu me desincompatibilizei de todas as funções para as quais fui nomeado, mas vice é eleito e essa hipótese de renúncia está descartada. Existem pareceres contra e a favor, todos eivados de posicionamento político. Essa polêmica existe por ser um fato novo. O vice é uma expectativa e não há proibição na lei, não foi regulamentado nada sobre vice.

O senhor não vê problema na situação?

Essa briga está ocorrendo de forma política. Se eu estivesse vindo para um governo alinhado ao do qual sou vice ninguém estaria discutindo. Por isso que é político. No campo jurídico eu me sujeito à decisão que for tomada. Eu fui eleito, não nomeado. Sob o ponto de vista legal não estou cometendo nenhuma infração à lei. Tem gente que quando morre vira placa de nome de rua ou viaduto, eu vou virar jurisprudência.

O Estado revelou que a Comissão de Ética da Presidência vai debater a dupla função. O senhor se submeteria?

Vamos deixar ela (a comissão) se manifestar. O que estou dizendo é que não posso de antemão renunciar a um cargo para o qual fui eleito.

Essa situação não cria um embaraço com o governador?

Longe de mim criar qualquer embaraço. Tenho convivido com situações mais embaraçosas, como a demissão da secretaria de Desenvolvimento Econômico, mas me dou bem como governador Geraldo Alckmin (PSDB) e continuamos com um ótimo relacionamento.

Ainda que seja pouco provável, na hipótese de um impedimento do governador o senhor deixaria o ministério para assumir efetivamente o cargo?

Não posso deixar de cumprir uma missão constitucional para a qual fui eleito, mas não vamos nem brincar em falar de morte do Geraldo ou algo assim.

Como fará quando Alckmin for ao exterior e tiver de assumir?

Quando isso acontecer vamos buscar uma solução.

O ministério terá uma equipe pequena, como pretende conduzir o trabalho?

Formarei uma equipe técnica. É um ministério de coordenação de ações, de formação de políticas, já existe um grande executor nessa área, que é o Sebrae, que está a espera de um formulador. Precisamos formular políticas e fazer uma articulação para desburocratizar os processos. Nós temos uma avaliação do Fórum Econômico Mundial de que o Brasil é o 138° país do mundo em ambiente de negócios. Isso acontece por causa da burocracia, do tempo de abertura e fechamento de empresas. Precisamos diminuir. Vamos concentrar na cidade de São Paulo, que é onde o indicador é medido, e trabalhar para fazer uma união com Estado e município para acelerar. Vamos fazer acontecer e depois isso vai para Minas Gerais, Rio de Janeiro, primeiro no Sudeste, onde há mais empresas. Mas outros Estados querendo nós podemos antecipar essa integração.

Se tivesse sido convidado para essa pasta por outro governo também aceitaria?

Sim, é o tema que me motiva, não a ocupação de cargos.

 

O Estado de S.Paulo – 9 de maio de 2013

Eduardo Bresciani e João Bosco Rabello/Brasília

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