Bem-vindo o tsunami

22 de março de 2012
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Dólares para investimento no Brasil

Está causando uma grande celeuma nacional o anúncio do PIB brasileiro de 2011, que mostra nosso crescimento pífio de 2,7%. Em todas as palestras que ministrei nos últimos tempos – e não são poucas – sempre afirmo que esse crescimento não aumentará enquanto o país não ampliar seus investimentos. Temos investido apenas 18% do PIB – sendo que, para crescer por volta de 5% ao ano (o que seria desejável), teríamos que investir 25% do PIB.

Não temos poupança interna suficiente, o que significa que para saltar de 18 para 25% teremos que buscar essa diferença no mercado externo. Entretanto, esses 7% não podem vir como forma de capital de empréstimo ou de aplicações especulativas no mercado financeiro brasileiro, como vem acontecendo.

O tsunami de dólares, que a presidente Dilma recentemente admitiu existir, seria muito bem-vindo para projetos de risco com retorno de longo prazo na nossa economia.

Enxergo que o Brasil tem uma grande oportunidade de crescer neste momento. A Europa está paralisada. Os Estados Unidos passam por um processo profundo de mudança em sua economia. O Japão está estacionado há quase 15 anos. Existe hoje no mercado mundial grande liquidez e capacidade ociosa em termos de engenharia e projetos. O Brasil é a bola da vez para receber investimentos em capital de risco. Mas esta não é a cultura brasileira, que quer financiar o nosso desenvolvimento à custa de empréstimos externos, empréstimos do BNDES ou usando o dinheiro do FGTS.

Está na hora de o Brasil se abrir para o exterior. Como vice-governador, entendo que cabe ao Governo de São Paulo dar o grande passo nesse sentido. São Paulo tem que ser olhado pelo seu real tamanho. Vocês sabiam que o estado está entre as 20 maiores economias do mundo quando olhado isoladamente? É um país dentro do país.

Nosso PIB é maior que o da Argentina, do Uruguai, do Paraguai e do Chile juntos. São Paulo tem tradição em parcerias público-privadas (PPPs). Nos últimos 20 anos, demos a oportunidade para que empresas se organizassem explorando nossa infraestrutura por meio das estradas, por exemplo – que hoje são conglomerados de grande importância nacional e internacional. Temos um rating melhor do que o próprio país. São Paulo, além de cumpridor histórico de seus contratos, tem um equilíbrio fiscal que permite aplicar cerca de R$ 83 bilhões em infraestrutura de capital próprio, mais R$ 10 bilhões nas mãos das empresas do estado e ainda podendo captar R$ 25 bilhões em parcerias com a iniciativa privada. É um formidável portfólio de mais de R$ 118 bilhões para investirmos em infraestrutura.

É hora de aproveitar as oportunidades para alavancar nosso crescimento, pois a crise internacional tem prazo para acabar. Basta que a Europa passe da fase mais aguda de sua crise para começar um processo de retomada. A mesma coisa acontecerá com os Estados Unidos.

Foi o que fiz em minha viagem à Espanha, há duas semanas. Fui recebido por dezenas de empresários e voltei impressionado com o interesse que eles têm em nosso estado. Em toda a Europa há países com know how, tecnologia e mão de obra especializada, mas com capacidade absolutamente ociosa. E nós, se olharmos apenas o portfólio do Estado de São Paulo, somos um excelente investimento para eles.

É hora de fazermos um grande road show internacional e apresentar São Paulo e seus projetos de prioridade imediata, como de mobilidade urbana, por exemplo. Nós temos que construir cerca de 120 quilômetros de metrô até 2018. Temos que construir o ferroanel. Temos que construir 400 quilômetros de Trem Expresso Metropolitano, que vai unir as regiões de Campinas, São José dos Campos, Santos e Sorocaba à capital paulista, trafegando a uma velocidade média de 160 km/hora. Dessa forma, esses sistemas de transporte poderão competir com o automóvel – que está superlotando nossas estradas e marginais.

O ferroanel vai desviar o transporte de carga para os trilhos rumo aos portos, aliviando o tráfego e a poluição dentro da capital e da Região Metropolitana de São Paulo. O Porto de São Sebastião deverá operar por meio de um sistema de ferrovia com seu retroporto na região de planalto. E esses são apenas alguns exemplos.

Ou seja, nós temos um portfólio fantástico com projetos em diferentes áreas: mobilidade urbana, sistema prisional, hospitais, centros administrativos, saneamento. O nosso setor privado não tem condições de aceitar o desafio sozinho. São muitos investimentos. Para o setor privado também é a hora da abertura para parcerias com as empresas estrangeiras.

São Paulo, é a sua hora. Este é o grande momento de acelerar o processo de captação de recursos em parcerias público-privadas para dotarmos São Paulo da infraestrutura de que precisa.

 



2 comentários para “Bem-vindo o tsunami”

  1. Jose Augusto de Alvarenga Filho disse:

    Caro Afif, sua visão é excepcional, ressalto entretanto que para todas as obras que serão iniciadas não temos no pais um pool de Seguradoras preparadas para aceitação de tais riscos, alem de resseguradores que desejam somente o “filé”. Tomo a liberdade de sugerir ao ilustre amigo que iniciemos os estudos da colocação dos referidos riscos juntamente com o desenvolvimento das licitações que levarão a cabo esse processo de crescimento.

  2. rubens figueiredo disse:

    Muito boa e apropriada a associação de tsunami com algo positivo.

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