Perspectivas para as MPEs em 1998

1 de dezembro de 1997
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O Brasil viverá em 1998 um ano extremamente importante do ponto de vista político, pois teremos a eleição para presidente da República, governadores e Congresso, e no plano econômico, quando se poderá sentir os desdobramentos da crise internacional e os efeitos das medidas adotadas pelo governo para defender o país de seus reflexos. O mais importante, no entanto, no ano próximo, será o avanço que conseguirmos realizar no tocante à aprovação e implantação das reformas estruturais, pois somente com o ajuste do setor público e a modernização institucional o Brasil terá condições para voltar a crescer de acordo com sua potencialidade sem que corramos o risco da volta da inflação ou uma crise no setor externo.

A crise que abalou os mercados financeiros e de capitais de diversos países, iniciada na Tailândia e se espalhando para a Ásia, afetou fortemente o Brasil por causa de sua vulnerabilidade externa, decorrente de um déficit elevado e crescente na balança comercial e na de serviços com o exterior. A fuga de capitais estrangeiros, reduzindo o nível das reservas cambiais, levou o Banco Central a elevar fortemente os juros e o governo a baixar mais um daqueles famigerados “pacotes fiscais” de fim de ano, dos quais nos julgávamos livres, que prometem corte de gastos, que geralmente não se concretizam, e promovem aumento de impostos sobre aqueles que suportam a brutal carga tributária vigente. Pelo fato de o governo não ter se ajustado e o Congresso aprovado as reformas, o setor privado, empresários e trabalhadores, irá enfrentar um ano de dificuldades que irão agravar os problemas sociais.

A elevação das taxas de juros vem provocando desaceleração do nível de atividades, com queda das vendas do comércio e, consequentemente, de suas encomendas para a indústria, desencadeando um círculo vicioso em que a redução da produção industrial gera desemprego que, por sua vez, faz cair as vendas do comércio e arrecadação de impostos, que provoca nova diminuição das compras do varejo junto ao setor industrial, que vai gerar mais desemprego e assim sucessiva- mente até entrarmos em recessão.

A profundidade da recessão dependerá do ritmo de redução das taxas de juros por parte do Banco Central, mas acreditamos que o processo será gradativo e apenas no segundo semestre seus efeitos poderão se fazer sentir na reativação da atividade econômica. Apesar da defasagem constatada no câmbio, dificilmente o Banco Central mudará a política cambial no ano próximo, pois qualquer mudança nessa política exige que se criem outros instrumentos de defesa da estabilidade monetária, como o ajuste fiscal, sem o que a desvalorização cambial pode resultar apenas em aceleração da taxa inflacionária, sem corrigir o desequilíbrio externo.

Assim, o cenário para o próximo ano é de um primeiro semestre muito fraco para a indústria e o comércio, com aumento da inadimplência das pessoas físicas e das insolvências das empresas, especialmente das menores, com alguma melhora a partir de julho pela proximidade das eleições, o que deverá gerar maior movimentação de recursos derivados da campanha eleitoral e, também, a flexibilização da política de juros e de crédito do Banco Central. A inflação deverá permanecer sob controle, podendo inclusive ser menor do que a de 1997, e a grande preocupação deverá ser com o desemprego, que deverá ser crescente no início do ano.

Para a indústria alimentícia, cujo desempenho depende fundamentalmente do nível de renda da população, as perspectivas são de um baixo crescimento da demanda e de um aumento da concorrência no setor, com maior participação de empresas estrangeiras no mercado, tanto na produção como na distribuição. As micro e pequenas empresas de panificação, bem como de outros segmentos, vão precisar usar a criatividade para enfrentar essa situação, buscando se modernizar, reduzir custos, associações e parcerias, “encantando os clientes”.

Tudo isso é necessário, mas não basta. É preciso que os empresários se mobilizem, através de suas entidades de classe, para pressionar pela aprovação das reformas, pois se elas não forem aprovadas estaremos no fim de 98 traçando um mesmo cenário desfavorável para a economia brasileira no ano seguinte. Além das reformas que estão sendo debatidas em Brasília, não podemos deixar de procurar obter alguns resultados, menos ambiciosos mas mais viáveis no curto prazo, como o da adesão de estados e municípios ao Simples, o que representaria um grande avanço em termos de burocracia e tributação.

Apesar das perspectivas não muito favoráveis para o ano de 98, o empresário brasileiro tem revelado uma extraordinária capacidade de se ajustar às mudanças da economia, porque é criativo, perseverante e trabalhador e, portanto, saberá enfrentar essas novas dificuldades para continuar contribuindo para o engrandecimento do Brasil.

 

Guilherme Afif Domingos é diretor da Indiana Seguros e atua em entidades ligadas às micro e pequenas indústrias.

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