PMEs criam centrais de negócios para crescerem

5 de outubro de 2014
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A vida de 24 fabricantes de lingerie de Juruaia, um pacato município do Sul de Minas, com cerca de 10 mil habitantes, começou a mudar, em 2010, quando eles se uniram e fundaram a central de negócios Toque Brasil. Esse tipo de pessoa jurídica permite aos associados vantagens como barganhar descontos com fornecedores, o que melhora o preço oferecido ao consumidor, garantindo salto nas vendas e nas margens de lucro. Esse tipo de negócio pode ter uma alavanca ainda maior em 2015, quando poderá ser implantado o Simples Internacional, com vantagens para importação e exportação feitas por empresários de menor porte.
Na prática, os resultados das centrais já são positivos no mercado interno. “A redução no valor da matéria-prima com a Toque Brasil chegou a 30%”, conta Vera Pizza, dona da marca Sonho da Lua. Agora, ela e outros nove empresários do grupo fundaram a Ju Jour, uma loja no Ribeirão Shopping (SP), em Ribeirão Preto. “Em nossa cidade natal, cada um tem seu próprio negócio. Atendemos o atacado. Já no interior paulista, somos sócios e o nosso foco é o varejo.

A mesma situação começa a ganhar força nos quatro cantos do Brasil. Na Grande Belo Horizonte, 15 lojistas do ramo de tintas se uniram na rede de negócios Clube das Tintas no início de 2013, com intenção de reduzir custos com os pedidos para a indústria, o que permitiu o seguinte ciclo: aumento nas vendas aos clientes e maior volume de pedido junto aos fornecedores. Houve, portanto, ganho na lucratividade. “Crescemos 17,4% em vendas e, nas compras, 12%. Nossa rentabilidade melhorou 5,4%”, disse Leonardo Antonacci, presidente do Clube das Tintas.

Os 15 associados da central continuam como donos do próprio negócio, mas, em 2015, eles também devem se tornar sócios. “Queremos montar um atacado. Cada um continuará com sua loja e será sócio no novo empreendimento”, planeja Leonardo. Na prática, as centrais de negócios estão gerando uma nova realidade aos pequenos empresários de todo o país. Os novos caminhos dos concorrentes que se unem para barganhar preços e conseguir outras vantagens, como cursos de capacitação em conjunto, ajudam a explicar o salto no número de centrais de negócios no país.

Em seis anos, o total de centrais e redes passou de 257 para 778 – aumento de 302%. Ao todo, são 16 mil pequenos negócios distribuídos em 79 segmentos. O comércio é o segmento campeão nesse ranking, com 458 empresas (40,5% do total). O setor agrega redes e centrais, sobretudo, de supermercados (44%), farmácias (15%) e construção civil (13%). Outros destaques são os setores de serviços (130), agronegócios (97) e indústrias (53).

O gerente da Unidade de Atendimento Coletivo do Sebrae Nacional, Juarez de Paula, explica o que é uma rede de negócios. “A rede é uma evolução do conceito de central de negócios, que vai além da ação de compra e venda conjunta. Numa rede, as empresas podem cooperar em várias outras ações, como criar um design de lojas padronizado, compartilhar um plano de marketing, promoções ou campanhas publicitárias. A rede envolve uma ideia mais ampla de cooperação.”
É o que ocorre com a turma do Clube das Tintas. Os associados contrataram uma empresa que desenvolveu o mesmo projeto para o interior e a fachada de cada loja. “Todas passaram a se chamar Clube das Tintas, mas cada uma manteve sua razão social. Padronizamos o interior e a fachada dos empreendimentos. Adotamos o mesmo slogan: doutores em cores”, explica Leonardo.

Pontapé

A ideia de montar a rede começou no ano passado, quando ele e outro empresário do ramo precisaram se unir para conseguir comprar a quantidade de verniz exigida por um fornecedor em troca de um bom desconto. “Percebemos, ao visitar uma rede de negócios no Sul de Minas, que a vantagem não era só descontos em compras. Fazemos mídia e RH cooperados etc.”,  diz o empresário. Depois de montar o atacado, acredita ele, o grupo conquistará mais espaço no mercado.

O mesmo desejam os empresários de Juruaia que criaram a Ju Jour. A marca teve a consultoria do estilista Renato Loureiro e reúne mais de 90 modelos de sutiãs, calcinhas, pijamas, camisolas e corselets. A coleção se inspirou na história e na cultura da região. A nova marca foi criada com apoio do Sebrae, que pesquisou juntamente aos fabricantes as tendências do mercado, como moda rápida, reestruturação de varejo, globalização, aumento de renda e crédito das classes C e D.

“As empresas já trabalhavam com o mercado atacadista. O desafio era conhecer o consumidor final para entender a demanda e produzir peças ainda melhores”, explica a analista da unidade de Indústria do Sebrae Minas, Thaís Pinho. Elcília Paulinelli, analista da regional Sul do Sebrae Minas, acrescenta que “um dos principais fatores de sucesso do polo industrial é a união dos empresários”. E justifica: “Eles promovem a cidade, valorizam o produto da região e não se abalam com a concorrência interna”. A intenção dos sócios da Ju Jour é abrir outras lojas, mas, claro, mantendo sempre o empreendimento individual na cidade natal. “Somos concorrentes na cidade e sócios na Jo Jour”, diz Vera Pizza.

 

De olho lá fora

As micro e pequenas empresas em Minas somam mais de 713 mil empreendimentos, o correspondente a 99,15% do total de organizações no estado. Uma grande dificuldade dos estabelecimentos desse porte é conquistar o mercado externo. O governo federal estuda a implantação do operador logístico simplificado, que pode se tornar realidade em meados de 2015, segundo acredita Afif Domingos, ministro-chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, que tem status de ministério.
Empresários associados em redes ou centrais de negócios têm maiores chances de conquistar o mercado externo com a criação do novo órgão. “Estamos nos preparando para o lançamento, ano que vem, do Simples Internacional. A nova lei (a presidente Dilma Rousseff sancionou uma norma que altera o Simples em agosto) estabeleceu várias condições que vão ajudar muito as micro e pequenas empresas. A globalização ainda não chegou aos pequenos em todo o mundo. A nova lei fala da criação do operador logístico simplificado para exportação e importação feitaspelos empreendimentos de menor porte”, diz Afif Domingos.
Uma das mudanças, conta o ministro, é que a pequena empresa poderá exportar o correspondente a até R$ 7,2 milhões por ano sem mudar de categoria. Atualmente, a lei diz que a pequena empresa é aquela com faturamento anual máximo de R$ 3,6 milhões. “Uma exportação ou importação de pequena empresa dificilmente enche um contêiner. Então, vamos criar um sistema simplificado para este operador, o qual não existe hoje. Quem está no Simples poderá dobrar o seu limite, desde que a diferença seja para o mercado externo”, acrescentou

 

Ciclo de palestras
De 6 a 10 de outubro, o Sebrae Minas oferece palestras sobre recursos humanos, gestão, legislação, e-commerce, franchising e compras públicas a pequenos empresários. A programação ocorre em função do Dia das Micro e Pequenas Empresas, comemorado hoje. As atividades serão realizadas em Belo Horizonte, Sete Lagoas, Montes Claros, Muriaé, Barbacena, Juiz de Fora, Poços de Caldas, São Roque de Minas, Itanhandu, São Sebastião do Paraíso, Pouso Alegre, Mantena, Caratinga, Ipatinga, João Monlevade, Araxá e Uberlândia. A programação completa está disponível no www.sebrae.com.br/minasgerais.

 

Publciado no jornal O Estado de Minas, em 05/10/14

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