A MPE é o polo gerador de emprego”

5 de maio de 2014
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Durante o seminário “Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte”, o ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, não se limitou a comentar aspectos ligados às micro e pequenas empresas. O gestor aproveitou a ocasião para falar sobre uma das principais atividades econômicas do Estado: o turismo. Para o ministro, é fundamental a criação de outros atrativos e equipar a cidade com infra-estrutura adequada.

“O turismo permite aumento do emprego, com baixo nível de investimentos e abre oportunidades para pequenos negócios e para micro e pequenas empresas. Chama a atenção, contudo, que o ‘sol’ continua a ser um atrativo bastante importante para o turismo, mas não é mais suficiente para atender seus desejos e necessidades, que exigem outras opções de lazer, comodidade e qualidade do atendimento e dos serviços em geral”, disse.

Afif citou ainda a importância da qualificação da mão de obra. “A qualificação da mão de obra talvez seja o maior diferencial que uma região possuidora de atrativos naturais possa investir, envolvendo desde a educação básica, ao treinamento constante, visando não apenas capacitar o empresário e o trabalhador, para  dar um atendimento diferenciado ao consumidor de bens e serviços, como criar em toda comunidade uma cultura de considerar o turista como uma visita importante, que contribui para o desenvolvimento local”.

Confira o restante da entrevista com o ministro:

Qual a posição da micro e pequena empresa na criação de novas vagas de emprego no Rio Grande do Norte?
Hoje, a micro e pequena empresa é o polo gerador de emprego, principalmente em cima do comércio, serviços e turismo. O crescimento do Rio Grande do Norte está calcado nesses fatores.

Quais fatores favorecem o bom desempenho das pequenas empresas na criação de empregos?
As pequenas empregas são fruto de uma iniciativa criadora. É o microempresário quem identifica as oportunidades. Não é o governo. É o microempresário com seu tino de empreendedor, faro de realizar, vai alargando as fronteiras, vai aumentando os horizontes. Isso atrai outras pessoas e dar oportunidade de trabalho. A grande força geradora de emprego no Brasil, hoje, é a micro e pequena empresa. 80% dos novos empregos gerados estão nesses dois tipos de empresas.

Mas isso fica restrito ao comércio e serviços? Como fica a distribuição da criação desses empregos?
No Nordeste, isso está concentrado no comércio e serviços. Até porque houve uma melhoria considerável no poder aquisitivo da população do Nordeste, nos últimos anos. Isso se refletiu na capacidade de consumo e isso gerou uma maior oferta de serviços.

Apesar de alguns estudos indicarem que 97% dos estabelecimentos formais do Brasil são micro e pequenas empresas, a taxa de sobrevivência dos empreendimentos não chega a cinco anos. Quais são os principais problemas enfrentados pelo pequeno empresários para se manter no mercado?
A taxa de sobrevivência delas não chega a cinco anos porque nós temos um sistema tributário perverso: quando o microempreendedor começa a crescer,o tributo pesa, pois o nosso sistema é progressivo em termo da cobrança de impostos. A empresa no Brasil é como caranguejo, tende a crescer de lado e não para cima. Esse é um ponto que temos que fazer: revisão os conceitos de tabela e também do processo de qualificação da empresa e dos gestores para garantir o processo de manutenção do empreendimento. Não somos muito competitivos por causa da burocracia excessiva e da falta de acesso ao crédito.

Durante sua palestra no seminário “Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte”, o senhor falou que o Brasil precisa aprender a explorar o turismo e não o turista. Como seria isso?
É exatamente você organizar e não viver oportunisticamente de oportunidades. De repente, vamos ter um evento e eu penso em explorar o turista. Não. Você tem que ter um plano para explorar o turismo. Aqui no Brasil, um dos bons exemplos é a cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. A comunidade daquela cidade se organizou, criou uma agência de desenvolvimento próprio dos empreendedores associada à prefeitura e faz uma programação de inverno, que é natural, mas fora do inverno pensou-se como a cidade poderia sobreviver.

E o que foi feito?
Hoje, Gramado tem uma festa do Natal – que é no verão –  reconhecida em todo país. Esse evento garante um ótimo fluxo de turistas. E aí, estamos falando de exploração do turismo e não exploração do turista. Lá, os preços são módicos, estão ao alcance das pessoas. Eles têm boa infra-estrutura, qualidade nos serviços. Todos os destinos turísticos do Brasil deveriam seguir essa visão.

Que tipo de infraestrutura uma cidade turística como Natal deve ofertar para receber bem os turistas e assim ter uma política de exploração adequada do turismo?
Um dos pontos principais para a manutenção do turismo é o saneamento básico. O saneamento é fundamental para manter a beleza das praias e não fazer com que o turista que venha para cá volte com algum tipo de lembrança não agradável.

Natal passa por esse problema. A cidade não é completamente saneada e, na praia de Ponta Negra – a principal praia urbana e cartão postal da cidade – encontramos problemas relacionados a esgotos a céu aberto…
Pois é. Isso é um problema sério. E é um problema que atinge a população local, primeiramente, e os turistas que aqui chegam. Você acaba prejudicando a imagem das belezas naturais e o turista vai embora com uma péssima impressão da cidade.

Estamos às vésperas da Copa do Mundo. A estimativa é de que cerca de 600 mil turistas visitem o país, entre os meses de junho e julho. O senhor acredita que, até lá, será possível mudar essa cultura de explorar o turista para explorar o turismo?
Não quero antecipar nada. Vamos deixar acontecer para depois ficar os exemplos daquilo que foi bom e daquilo que foi ruim. Não quero antecipar nada, nem de bom, nem de ruim.

Qual a análise que o senhor faz dos números do turismo no país? Aqui, no Rio Grande do Norte, houve uma retração nos últimos anos, mas a tendência é de melhoria com o advento da Copa.
O turismo no Brasil sofreu uma forte concorrência, com relação aos custos, frente a outros destinos no exterior. O Brasil acabou ficando caro para quem quer fazer turismo. Temos que ficar de olho para manter os nossos preços e custos atraentes para os turistas.

 

Fonte: Tribuna do Norte (RN) em 5 de maio de 2014

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